"a clara agonia de um homem senil", esse foi o que eu escrevi na caixa "assunto" do e-mail revoltado contra a ofensa que foi pra mim individualmente, e pro que imagino ser a luta das mulheres como um todo, do "texto" que o "professor" luiz pondé (colunista da xexelenta folha maldita de sp, professor da não menos xexelenta faculdade de comunicação da malígna faap).
gente, sério, eu achei q ia explodir de tanto sentimento de injustiça e crueldade que transborda do textículo dele.
tal foi a sensação que se instalou em mim, de onde eu vociferei em e-mail a ele (e-mail que recebi de uma fonte protegida):
(17 horas atrás)
Misógino, ignorante, retrógrado, burro e imbecil!
morre logo aí!
pesado, né? como que uma pessoa pode falar assim com alguém que não conhece, um professor doutor blabla em FILOSOFIA (gente, sério!). mandar morrer ainda, q falta de educação, né. tá bem. só que o doutorzinho lá resolveu escrever sobre como as feministas (não, o doutorado dele não foi sobre feminismo) são peludas, feias bobas e chatas, e como todo o resto do gênero feminino da sagrada espécie de homo sapiens sapiens (os homens que sabem sabem) que deus colocou na terra (o moço é religioso, deve pensar isso, eu não) quer se livrar desse encargo que o feminismo do mal, peludo, mal amado e mal-comido, causou, que é trabalhar e ter uma vida própria. imagina só. o luizinho acha que as mulheres querem mesmo é ficar em casa, cuidar do marido e dos filhos, e que isso de trabalhar fora só fudeu a vida plena que as bonequinhas ali (que nunca existiram) tinham antes dessa chatice de "igualdade" pregada pelas macacas que odeiam os homens (as feministas, claro).
enfim, dentre as mil idiotices que o sujeito falou, ignorantão mesmo que ele é, estão coisas piores, que eu não vou falar agora, pq, que preguiça, né. e muitos blogs já divulgaram essa baboseira do podézinho, e o que me traz alguma felicidade é que tem muita gente q não faz idéia do que é feminismo disparando contra as erratas do cara. siga o link:
bocas no trombone ou digite "pondé restos à janela" e escolha onde vc vai ler esse troço.
aí que eu esperava uma reação com igual força do sujeito, me xingando, trazendo pro nível que ele começou no textículo dele. mas não! pasmem! ele foi educadinho, me mandou até abraço!
ó só:
Luiz Felipe Pondé para mim
(17 horas atrás)
voce foi muito radical Clarisse...
veja a questao num contexto sobre agonias contemporaneas, ai vc verá q a questão alem de retorica, é de fato real: insegurança, medo, solidao, obrigado por seu email. Abraço, Pondé
fofo. acho que ele tava sofrendo as tais agonias contemporâneas. ou era só mesmo dor de barriga, vai saber.
enfim, resolvi dar uma colher de chá pro cara e tentar explicar algumas coisinhas, com um pouco mais de educação, já que ele agora subiu o nível um tico, (aliás, que anti-feminino de mim, engrossar a voz, né! ficar xingando o "doutor"! devem ser os meus pelos que cresceram demais, peraí q já vou raspar).
aham, pronto. aqui vai a resposta da resposta da resposta:
Clarisse Alo para Luiz
mostrar detalhes 10:21 (1 hora atrás)
imagino que a idéia de que as mulheres sejam seres humanos e queiram igualdade é mesmo por demais radical pra você. de que possam ser felizes além da maternidade compulsória, além da heteronormalidade, além da projeção dos homens que crescem achando que beleza feminina é de plástico, seja uma noção por demais amedrontadora para quem está vendo seu mundo ruir.
na verdade eu acho que você está muito enganado na sua leitura sobre mulheres e homens, em generalizar de forma grosseira esses grupos, além da sua noção de feministas estar pra lá de estereotipada e superficial. se você queria fazer uma análise de como se sente perdido em um mundo em que a sexualidade é vivida de formas variadas, e onde as mulheres, feministas ou não, não tem que se obrigar a cumprir todos os serviços domésticos, sexuais e ainda servirem de bonequinhas "para" seus maridos, você deveria ter deixado mais claro que essa é uma dificuldade sua.
a agonia feminina, de que você tentou falar, não é fruto da conquista de direitos da pauta feminista, como o voto, o trabalho, ou ainda o divórcio, mas sim de não ter se livrado do modelo aprisionador de feminilidade e da quase total falta de empatia de muitos homens, que ainda acham que deve cair sobre a mulher todos os afazeres domésticos. ou você já se perguntou se essas mulheres que reclamam de ter de trabalhar dobrado e dizem, por se sentirem sobrecarregadas, que preferiam ter apenas um trabalho (o do lar), que se a situação não fosse tão desigual, se o trabalho fosse realmente dividido, elas não seriam felizes? ou você acha mesmo que todas as mulheres só querem mesmo é se dedicar ao espaço privado e isso faria com que sua existência fosse mais comlpeta? esas é sua leitura histórica?
e problematizar as tais "exigencias infinitas", onde estão mergulhadas as mulheres, não passou pela sua cabeça? de que essas exigências não são apenas internas, de que a imposição de uma certa beleza seja um fardo (para o qual muitas morrem em cirurgias plásticas), de que o espaço privado para o qual nos queriam escravas seja sufocante? e que isso somado ao trabalho, certamente sobrecarrega. mas o erro está em querer independência? essa foi a leitura que você fez. só essa.
essa inversão, de que o movimento social que propõe mudança e liberdade é o real perigo, o causador da maior desigualdade, não é novo, isso é backlash antiiigo. pesquise. já que está disposto a ler sobre o feminismo, leia susan faludi "backlash". (aqui um resuminho pra facilitar:
http://www.h-net.org/~hst203/documents/faludi.html )
pra você, ser feminista é ser apenas uma "neopeluda" (como se a questão dos pelos fosse nova), é ter ódio dos homens, é ser feia e burra, certo? é ter inveja das "belas"? fico imaginando o que pensa uma pessoa com essa visão sobre a liberdade, sobre a construção social dos sexos e dos comportamentos, da sexualidade humana...
se o sexo não precisa mais ser comprado com jantares, o que será da humanidade, não é mesmo?
só pode ser o apocalipse! as mulheres querendo viver sua sexualidade livremente, ó céus!
não é novidade alguma que as mulheres estão sobrecarregadas. mas as tais "neopeludas" (eu, aliás, me depilo) são aquelas que buscam mostrar que a luta por igualdade está longe de acabar. e que isso passa por, também, poder decidir individualmente se depilar é algo que se queira fazer com seu próprio corpo.
the end
é isso ae, minhas amigas. desopilei e agora respiro melhor. faz bem, sabe.
o que vocês acham? vamos encher as caixas de emails desses caras até eles verem que não podem mais sair falando absurdos sem serem respondidos à altura?
em solidariedade feminista e em revolta fuzarqueira!!
clarisse