terça-feira, 28 de setembro de 2010

FormAÇÃO FEMINISTA: LEGALIZAÇÃO DO ABORTO


Neste sábado (02.10) as jovens militantes da Marcha Mundial das Mulheres realizam na SOF (R. Ministro Costa e Silva, 36 - Pinheiros/SP) uma Roda de Conversa sobre o tema da legalização do aborto.

A atividade acontece em a alusão ao dia 28 de Setembro - Dia Latino-americano e caribenho pela legalização do aborto, data em que diversas companheiras feministas se reúnem-se em toda a América Latinha para dar visibilidade a mais uma das lutas das mulheres em busca de nossos direitos.

Então, a Roda acontece nesse sábado às 15 horas produziremos coletivamente um fanzine e realizaremos intervenção urbana pelas ruas de São Paulo.

Eu aborto
Tu abortas
Somos todas clandestinas!

Em defesa da vida das mulheres! Pela legalização do aborto!

Os “anti-direitos” ou “pró-morte das mulheres” tem várias frentes de atuação para impedir a legalização do aborto, fazer retroceder os direitos já conquistados pelas mulheres e aumentar a criminalização daquelas que praticaram aborto. Uma delas é a atuação parlamentar coordenada. Eles criam Frentes Parlamentares anti-direitos em nível nacional, nos estados e municípios. No Congresso Nacional, articularam a proposição da CPI do aborto, o Estatuto do Nascituro e mais cerca de 50 projetos de lei orientados para cercear os direitos das mulheres.
Eles se auto-intitulam pró-vida. Nessas eleições, assinaram um termo de compromisso com a defesa da vida desde a concepção. Para eles, importa mais uma vida abstrata que a vida concreta de milhares de mulheres que recorrem ao aborto em situações de insegurança. Até agora tem 55 candidatos/as a deputado/a federal nesta lista, vários/as para estadual, um candidato a governador (o Bassuma, do PV da Bahia), e um candidato a vice-presidente, que não por acaso é o Índio da Costa, do DEM, candidato a vice do Serra – que não vai ganhar de jeito nenhum!

Não vote neles!…

E venha pras ruas com a gente!

O nosso lado, que defende a vida e autonomia das mulheres, também se articula. Desde 2008 existe uma Frente Nacional contra a Criminalização das Mulheres e pela Legalização do Aborto. Participam desta frente mulheres e homens, parlamentares, movimentos de mulheres e movimentos sociais em geral, partidos políticos e quem mais quiser se somar. Neste dia 28 de setembro, a Frente apresenta a Plataforma para a legalização do aborto no Brasil.

Nas ruas, blogs e redes sociais, estamos em luta em defesa da vida e da autonomia das mulheres e pela legalização do aborto.

Leia também:
Dia 28 de setembro, no Maria Maria – Mulheres em Movimento
O aborto em 3 pílulas, no Trezentos.
Legalização do aborto, por Cynthia Semíramis
O aborto na história, por Denise Arcoverde
Confira, e participe, das ações da Marcha Mundial das Mulheres pela legalização do aborto, neste dia 28 de setembro e todos os dias, até que todas sejamos livres.

Por Tica Moreno, militante da MMM-SP

Filme sobre realidade do aborto na vida das mulheres é exibido hoje em Mossoró



O Cine Bairro, projeto do Centro Feminista 8 de Março em parceria com a Fundação José Augusto, exibe o documentário “O aborto dos outros” (2008), da paulista Carla Gallo, hoje, 28/09, na Praça Jornalista Jaime Hipólito (em frente ao Cafezal), às 19h.

Após a exibição do filme haverá um debate entre os/as participantes e uma intervenção teatral. Em seguida, ocorrerá a apresentação da banda de reggae mossoroense Kavah Roots, encerrando a atividade.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

28 de setembro – Dia de luta pela legalização do aborto





Na próxima terça-feira, dia 28 de setembro, diversos movimentos feministas reunidos na Frente Nacional contra a criminalização das mulheres e pela legalização do aborto realizarão atos públicos para marcar o Dia Latinoamericano e Caribenho de Luta Pela Legalização do Aborto. A data foi proposta em 1990 e desde 1993 são realizadas ações em toda a região. 

Em São Paulo, o ato acontecerá a partir das 16h na Praça do Patriarca, e contará com panfletagem, batucada feminista, exibição do filme, entre outras atividades. 

A Frente Nacional elaborou uma Plataforma que contém diversas propostas para a efetivação dos direitos reprodutivos e da autodeterminação das mulheres, entre eles a legalização do aborto, a garantia de realização do procedimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e a descriminalização das mulheres que optam por realizá-lo. 

Criada em 2008, a Frente reúne diversos movimentos feministas e mistos, que se articulam para lutar pela legalização do aborto. A avaliação geral é de que nossa sociedade enfrenta atualmente uma ofensiva dos setores conservadores, que têm se organizado em diversas esferas – igrejas, Parlamento, ONGs – para tentar impedir que esse debate seja feito de forma clara e sem preconceitos. 

Sônia Coelho, integrante da Marcha Mundial das Mulheres, acredita que essa ofensiva tem inclusive pautado os debates eleitorais, já que os grupos anti-legalização do aborto não hesitam em atacar qualquer candidato ou candidata que se coloque ao lado dos direitos das mulheres. “Os debates aprofundados sobre a realidade das mulheres e as consequências da não legalização do aborto em sua saúde e suas vidas, que deveriam marcar o período eleitoral, simplesmente não estão sendo feitos”, afirma. 

Neste sentido, a Frente espera alcançar o objetivo de pautar sua Plataforma com a sociedade no dia 28 de setembro. “Será também um momento importante de aglutinação de pessoas e movimentos que ainda não fazem parte da Frente, mas debatem o tema e se posicionam a favor da legalização do aborto e da vida das mulheres”, coloca Sônia. 

Confira  Plataforma pela Legalização do Aborto construída pela Frente Nacional contra a criminalização das mulheres e pela legalização do aborto.

domingo, 26 de setembro de 2010

Feminismo 2.0 contra o machismo neandertal

Não é novidade nenhuma pra nós feministas que as mulheres são, cotidianamente, vítimas de opressão. Também não é novidade pra nós que a opressão é transversal: tá na repressão que sofremos de pais, namorados ou maridos, no assédio do chefe, do pedreiro da esquina ou do trocador de ônibus, nas imposições das revistas femininas e nas estereotipias dos meios de comunicação em geral. Talvez por isso eu não tenha me espantado muito quando uma amiga me enviou, por e-mail, o texto do machistão nojento, professor da FAAP e especialista em conservadorismo, religião e mau gosto, Luiz Felipe Pondé – a quem prefiro chamar, carinhosamente, de “Luizinho”. 

Um textinho medíocre, uma vomitadela de clichês tipo cantada de tiozinho bêbado em final da balada. Algo mesmo como “as feministas são mal-amadas, mal-comidas e mal-depiladas – aliás, nem se depilam (que horror!)”. Preguiça, né, gente? Entretanto, como, infelizmente, o doutor Luizinho conseguiu espaço na Folha de São Paulo (só pra constar: caguei pra Folha); como, pra nossa tristeza ainda maior, algumas dezenas de pessoas certamente leram esse monte de besteira; e como, obviamente, não temos direito de resposta nesse jornaleco, a verve feminista nos colocou, imediatamente, em posição de esclarecer um pouco as coisas pr@s leitores do Luizinho. E é daí que esse texto deveria começar, na verdade.


No debate de abertura do Ladyfest Brasil desse ano, entitulado Feminismo Além do Bem e do Mal: aliança feminista contra o machismo blindado, Vange Leonel falava algo sobre como o machismo é de tal forma estruturado na sociedade, que é como se tivesse uma blindagem. Sabe o senso comum sobre a amizade masculina e a rivalidade feminina? Meninos compartilham façanhas sexuais, chamam-se uns aos outros de viado e filho da puta, e jogam bola aos finais de semana. Meninas duelam pelo bonitão do colégio, invejam a roupa e o cabelo umas das outras e falam mal das outras pelas costas. Tudo socialmente aceito e naturalizado: normal.
É sobretudo contra essa couraça machista, de tal forma construída e consolidada, ao longo dos anos, pelos pais e avós dos Luizinhos, que temos que lutar, diariamente. E é por essas e outras que temos que abandonar tais naturalismos, tão velhos e obsoletos quanto o texto de nosso amigo – e quanto a ideia de que vivemos em eterna disputa pelo pênis perfeito – em prol dessa coisa maior a que chamamos auto-organização. 

Na tarde dessa segunda-feira ensolarada, bastou uma rápida troca de mensagens eletrônicas para que a rede feminista fosse acionada. Do trabalho, do estágio, da faculdade e de casa, rapidamente levantamos a ficha do doutô e nos pusemos a lutar com as palavras, contemplando a blogosfera com lições de história e tons de poesia. Também mandamos e-mails pro Luizinho e pro jornalzinho, claro. Irônicas, irritadas ou arrogantes, publicamos, tuitamos e retuitamos nossa própria versão de nossas próprias vidas. Felizmente, fazemos parte da parcela da população que tem acesso às teclas e às letras. Afora nossa evidente inclusão sócio-digital, sobressai, EM CAIXA ALTA, a vantagem de estarmos organizadas nessa rede feminista de solidariedade e ativismo político. 

Muitas vezes, em minha vida, quis encontrar amigas para compartilhar a opressão isolada que eu sempre senti e que, até então, não compreendia como sendo coletiva: a tal da opressão de gênero que atinge a todas as mulheres, em maior ou menor grau. Algum tempo depois, encontrei companheiras com as quais pude pensar alto, aliviada por saber-me não mais sozinha e por compreender que meu sentimentos não eram efeito de puro delírio ou de álcool puro. Mas, cada vez mais, estou convencida de que não bastam desabafos em mesa de bar ou felizes histórias de self-made women que superaram desafios e, de alguma forma incrível, tornaram-se ricas, independentes(?) e casaram-se com Luís Fernando de la Vega

Troco a picanha de domingo pelo ativismo cotidiano e organizado, não pelo bife de soja diário do restaurante indie da moda, porque o sistema capitalista-patriarcal não admite “soluções individuais para problemas coletivos”. Como diz o Team Dresch: Freedom is freedom: it’s for all or it’s all for nothing.




 
Seguem bons textos publicados em resposta ao nosso amigo doutô:

Sobre pelos e nojos
, em Roupas no Varal
Resposta a Pondé – A obsolência das Agonias Contemporâneas, em Ofensiva contra a Mercantilização
A clara agonia de um homem senil, em Ofensiva contra a Mercantilização
E se eu não quiser me depilar, algum problema?, em Viva Mulher
As mulheres tem motivos para lutar, em Blog Muié

Fica a dica de um protesto bem-humorado também:
http://neopelucias.wordpress.com/

É por essas e outras que agradeço ao Luizinho pela gentileza. Como já disse, algumas vezes, essa semana: se cada manifestação pública de machismo gerar tanta produção boa quanto as que li nesses últimos dias, vou tentar parar de criticar a Folha, o CQC, o Pânico, os filmes hollywoodianos, as revistas femininas, os meios de comunicação de massa, o meu colega de trabalho, o seu vizinho, os nossos pais…



Por: Bruna Provazi

ABORTE A CLANDESTINIDADE

MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES EM CAMPINA GRANDE PARAÍBA
ATIVIDADE SOBRE A LEGALIZAÇÃO E DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO

 Haissa Vitoriano
Marília Gabriela

No dia 22 de setembro de 2010, tivemos a primeira atividade, voltada para a sociedade, do núcleo da Marcha Mundial das Mulheres em Campina Grande – PB, cuja pauta trazia, como centro, a discussão a cerca da descriminalização e legalização do aborto. Para tanto, foi realizado um debate na Universidade Estadual da Paraíba, no curso de Serviço  Social, trazendo como palestrantes a Prof. ª Drª. Idalina Santiago e a companheira da MMM de João Pessoa- PB, Socorro Almeida.
A formação da MMM em Campina grande é resultado de um agradável encontro de mulheres que atuam em coletivos feministas, como o Beth Margaridas e o Flor e Flor, além de algumas meninas independentes e outras vinculadas à Consulta Popular. O contato foi mantido informalmente, a priori, até que foi decidido, no dia 18 de setembro – segundo encontro –, numa reunião mais direcionada, a identificação dessas mulheres como Marcha Mundial das Mulheres, tendo por objetivo traçar os encaminhamentos para a agenda do mês de setembro.
Atendendo às expectativas traçadas no dia 18, o debate sobre o aborto foi realizado com sucesso, gerando reflexão e crítica a cerca das políticas públicas regentes hoje no Estado. O encontro contou com uma plateia bem diversificada, contemplando de líderes religiosos à agnósticos e visões das mais diversas, fato que corroborou para uma elevação do nível da discussão, contemplando todas as instâncias que informam o processo sobre a legalização do aborto.
O resultado do debate foi muito positivo, gerando comentários favoráveis, que, por sua vez, já vem repercutindo, principalmente no meio acadêmico. Ao final do encontro, novamente foi feito uma reunião com as mulheres da Marcha para acertar a intervenção do dia 28, na tentativa de fazer um ato em conjunto com as meninas da Marcha em JP. A intenção de todas é de que haja um diálogo constante dentro do estado, de modo que exista um acompanhamento presencial mútuo nas duas cidades.
É, com esse simples informativo, que anunciamos com felicidade à Marcha em todos os estados brasileiros sobre o comprometimento e dedicação com que as mulheres campinenses têm vestido a couraça dessa luta.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A Globo Precisa ouvir Pagu

Há quem (ainda) pense que este mundo é igualitário, e que também não existe desigualdade nas relações entre homens e mulheres. Este modo de enxergar a sociedade contribui para que a opressão sofrida pelas mulheres fique invisível, que não saibamos que as mulheres ainda ganham cerca de 30% menos que os homens, que a cada 15 segundos uma mulher sofre violência no Brasil e que o aborto inseguro está entre as principais causas de morte materna no país.

A mídia (Golpista!) é um dos principais agentes a mascarar a desigualdade, mostrando que hoje em dia as mulheres são “livres” e o machismo é algo antiquado e tende a desaparecer, como se as mulheres não tivessem que seguir um padrão de beleza imposto, aliás, pela própria mídia que afirma não haver machismo; como se o trabalho doméstico não fosse realizado majoritariamente pelas mulheres além da jornada de trabalho, entre tantas outras situações que, ao exigir que sejamos verdadeiras “mulheres maravilhas”, oprimem e confirmam a atualidade e necessidade da luta feminista por igualdade.

Para não perder o costume, no ultimo domingo, na emissora de televisão Rede Globo, exibiu no programa do Faustão um quadro chamado “Maratoma”. A disputa deste domingo foi entre os homens CDFs e as mulheres BBGs (Boas, Bonitas e Gostosas), para conferir acessem: http://tvglobo.domingaodofaustao.globo.com/maratoma/. Incrível! As mulheres gostosas, bonitas e boas, nunca poderiam ser CDFs que como os homens!? Não parece ser esta a mensagem? Mais uma vez esta sociedade machista mostra sua face rotulando a mulher como apenas um corpo bonito e supostamente sem capacidade, como se as mulheres não pudessem fazer o que os homens fazem, como se não existissem mulheres bonitas e inteligentes...

Afora este rótulo, as cenas não dão o enfoque na disputa por si só e sim em closes nas bundas e peitos das mulheres, como se fôssemos mercadorias a sermos prontamente vendidas em horário comercial pela televisão! Há quem possa retrucar: “Mas elas são livres! Escolheram mostrar o corpo na televisão, fazem isso porque querem ou gostam...” Aos adeptos desse (falacioso) discurso, saibam que às mulheres são reservados apenas alguns papéis na sociedade, temos somente poucas perspectivas: ou somos “freiras”, e aceitamos a maternidade, o casamento e tantas outras coisas como nossa obrigação, ou somos “putas”, devendo ser sempre gostosas, bonitas para satisfazer a virilidade masculina...
Esse programa foi e é mais um exemplo de como a sociedade, (e a mídia golpista, porque é também machista) mercantilizam o corpo e a vida das mulheres, usando peitos e bundas para aumentar o ibope, reforçado os estereótipos.

“Porque nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem!”


Por Caroline Bernardo e Mariah Aleixo, militantes da Marcha Mundial das Mulheres /PA



terça-feira, 14 de setembro de 2010

Resposta a Pondé

De tempos em tempos nós as mulheres feministas nos deparamos com expressões de puro preconceito e machismo. O texto do filósofo e articulista da FSP é mais um deles. Também não é o primeiro de sua autoria a discorrer sobre as mulheres contemporâneas e seu papel na sociedade. E infelizmente não será o último.



Resposta a Pondé – A obsolescência das Agonias Contemporâneas



Uma mulher sem um homem
é como um peixe sem bicicleta, tenha ela pelos ou não!



Notícia ruim chega rápido. Chega mesmo. Ontem fui conduzida pelos clamores de companheiras feministas indignadas – hoje em dia é coisa rara, indignar-se – ao texto de Luis Felipe Pondé, publicado no caderno Ilustrada da FSP, em 13/09/210, cujo título é Restos à Janela.

Primeira reação. Horror. Não pode ser outra vez. A velha história sobre “O lugar das mulheres no mundo de hoje”. E uma vez mais frases de impactos tão irresponsáveis quanto superficiais sobre a relação Emancipação da Mulher - qualquer semelhança com a história de Pandora, Eva ou outras não é mera coincidência! – com a Desorientação Contemporânea.

Segunda reação. Não merece resposta. As minhas companheiras feministas propositivas discordaram. Desconstruir tamanho elogio ao senso comum – e ao machismo - é nossa tarefa. Fico feliz em não ser a única, nem a última.

Pois bem. Em nada exaustivo, esse texto é claramente um texto feminista. Talvez dessa onda a que Pondé alude (neopeludas?). Mas certamente mais profundo que suas reflexões sobre nossas “exigências infinitas”, sobre nossa relação com os pelos, com aparelhos de barbear e com a obsolescência.

O texto de Ponde reúne e sintetiza séculos de pensamento branco, heterossexual e de pura misogenia, que obcecado em justificar e manter a desigualdade entre mulheres e homens, faz uso das explicações naturais, que mais linha menos linha, desembocam no o controle da sexualidade das mulheres pelos HOMENS.

Vejamos. Para ele o destino da mulher é reproduzir a espécie. Incompleta e frágil que é não o faz sozinha, ela precisa do macho. E para conseguir o seu, as mulheres devem seduzi-lo, devem embelezar-se para ele, e claro disputa-lo, umas com as outras. Devem moldar-se pois – a sua consciência, subjetividade e desejos – ao tamanho do lar, que é tudo o que podem desejar e é aquilo que os homens podem dar para elas, junto com proteção, segurança e conforto. Para dela sugerem a beleza, o carinho, o amor, a compreensão, as roupas lavadas...a lista é imensa! São as mulheres do lar, são as mulheres de alguém. Assim, não estão sós. E certas de que, como fazem as macacas e as aves fêmeas, cumprem o desígnio da natureza (ou de Deus!) na reprodução das espécies.

Tudo isso ia muito bem até que aparecem algumas mulheres com certas ideias subversivas que colocam essas verdades à prova. Problematizam a construção do ser mulher, trazendo a baila os detalhes – que são as formas como o poder se manifesta, os quais Pondé intencionalmente esconde – questionando assim o destino aparentemente fatal ao qual as mulheres estariam sujeitas: o amor incondicional de mãe e de amantes, a sexualidade passiva que nunca transcende, que tornada puro objeto é intencionalmente dada – na caso de uma virgem que entrega sua pureza ao seu verdadeiro amor, ou no caso sacrossanta fidelidade feminina – ou que pode ser arrancada, tomada a força – no caso da violência sexual, ou o estupro. Em resumo uma vida resumida a agradar aos OUTROS.

Essa natural predileção pelo lar, essa fragilidade tantas vezes cantada e a cada vez mistificada, que faz de nós seres dependentes e vazios, voltados a seduzir e manter seu macho determina inclusive os dilemas de nossa existência, que como atadas à história e a sociedade em que vivemos variam: acabar com os pelos, casar e ter filho antes dos 30, aumentar os seios, o bumbum, estar sempre magra, ser sempre bela e jovem, para citar algumas das agonias contemporâneas (das mulheres) que Pondé intencionalmente não menciona. E tudo isso sob a inegável (?) e inquestionável fundamentação natural de que é da substância das mulheres.

Evidente que o questionamento das próprias mulheres produziu mudanças nas sociedades e que essas não podem ser vistas apartadas dos processos sociais, econômicos e políticos nos quais estamos todas e todos. E que muitas vezes não significam o completo rompimento com o passado. Na verdade, à uma afirmação das mulheres como sujeitas de si corresponde um sem-número de reações em contrário de representantes das mais diferentes instituições – todas elas ligadas à nossa história de opressão – como a igreja, a ciência, para ficar na dimensão macro.

O texto de Pondé, portanto, não traz nada de novo ao “bla-bla-blá mais frequente por aí”. A crescente participação das mulheres no mercado de trabalho não significou uma necessária - e almejada pelas mulheres - reestruturação da família e dos “papéis” de cada um dentro dela. Ou seja, temos o sinal verde para trabalhar, mas a casa, os filhos, a família continuam sendo nossas responsabilidades.

Certamente que Pondé não imagina que tenhamos todas que abandonar nossos trabalhos, mas incomoda a ele - e a um montão de machos por aí - que em dado momento da vida as mulheres escolham o trabalho e não a família, que coloquem mais energia em suas carreiras do que num homem. O que, de fato, causa a indignação dos machos é que essa dura batalha que enfrentamos, nós as mulheres, pela construção de nossa autonomia – econômica e também da consciência – signifique necessariamente a OBSOLESCÊNCIA dos homens, tal como eles se entendem há séculos, e por conseqüência a maneira como eles se relacionam com o mundo e os seres que habitam o mesmo.

Mas e os homens? O que farão então os homens sem aquela mulher para cortejar, humilhar, para levar pra cama depois de pagar um jantar, casar, trair, voltar, falar mal, ou para passar suas roupas e cuidar dos seus filhos? Há uma clara alteração na forma de ver o problema, certo? As agonias por fim não são só nossas, não é mesmo?

O amigo de Pondé tem razão quando diz que não há mais razão para se investir nas mulheres. Quer seja porque elas passam a ganhar mais, afinal elas estudam mais mesmo, quer seja porque, mesmo que bem devagarzinho e sempre enfrentando reações conservadoras como as de Pondé, a gente esteja conseguindo atacar o paradigma que determina as relações entre homens e mulheres, o que para nós significa abrir caminhos para a construção de novas mulheres e homens. Há uma evidente diferença com a alegoria sobre disputar a lâmina de barbear pela manhã. Não se trata de virarmos homens para termos mais direitos, mas de construirmos um mundo com IGUALDADE para mulheres e homens.

Para Pondé, as agonias contemporâneas - o medo, a solidão e a insegurança (repito, só das mulheres?) - são percebidas como resultado direto da inversão dos valores propostas pelas primeiras feministas. Mas preso aos detalhes, Pondé não consegue identificar que esses males não são exclusivos da mulher moderna, muito menos podem ser lidos como resultado indesejado de nossas conquistas. Eles dizem respeito à adoração desmedida ao consumo nessa sociedade guiada pela lógica da oferta e da procura e totalmente atomizada na crença do individualismo, como único caminho para a felicidade constante e ininterrupta (ela mesma um mito, tal como Pondé explicitou sobre a falibilidade da vida afetiva), através da lógica avassaladora da mercantilização de casa dimensão de nossa vida (objetiva e subjetiva), a mercantilização da vida em si.

Há muito que fazer, há muito que derrubar e um mundo inteiro para reconstruir. E esteja certo, Pondé e todos que suas ideias representam, de que nós e as outras que virão depois de nós, continuarão a movimentar-se a se organizarem as passeatas,  debates etc. Continuaremos a denunciar e a lutar contra todos os canais de opressão, para que chegue um momento em que as mulheres não precisarão mais dos assobios nas ruas para se sentirem bonitas, que não precisarão de um macho para se sentirem completas, em que elas experimentarão a autonomia plena sobre seus corpos e vidas. E assim, diante de novas mulheres e novos homens, o desejo, o amor ou qualquer coisa que o valha serão apenas, e tão somente, expressões da vontade pura e desinteressada, sem significar o exercício de poder sobre as MULHERES.


Seguiremos em Marcha até que todas sejamos livres!


Camila Furchi
Militante da Marcha Mundial das Mulheres

a clara agonia de um homem senil

"a clara agonia de um homem senil", esse foi o que eu escrevi na caixa "assunto" do e-mail revoltado contra a ofensa que foi pra mim individualmente, e pro que imagino ser a luta das mulheres como um todo, do "texto" que o "professor" luiz pondé (colunista da xexelenta folha maldita de sp, professor da não menos xexelenta faculdade de comunicação da malígna faap).
gente, sério, eu achei q ia explodir de tanto sentimento de injustiça e crueldade que transborda do textículo dele.
tal foi a sensação que se instalou em mim, de onde eu vociferei em e-mail a ele (e-mail que recebi de uma fonte protegida):

(17 horas atrás)

Misógino, ignorante, retrógrado, burro e imbecil!
morre logo aí!

pesado, né? como que uma pessoa pode falar assim com alguém que não conhece, um professor doutor blabla em FILOSOFIA (gente, sério!). mandar morrer ainda, q falta de educação, né. tá bem. só que o doutorzinho lá resolveu escrever sobre como as feministas (não, o doutorado dele não foi sobre feminismo) são peludas, feias bobas e chatas, e como todo o resto do gênero feminino da sagrada espécie de homo sapiens sapiens (os homens que sabem sabem) que deus colocou na terra (o moço é religioso, deve pensar isso, eu não) quer se livrar desse encargo que o feminismo do mal, peludo, mal amado e mal-comido, causou, que é trabalhar e ter uma vida própria. imagina só. o luizinho acha que as mulheres querem mesmo é ficar em casa, cuidar do marido e dos filhos, e que isso de trabalhar fora só fudeu a vida plena que as bonequinhas ali (que nunca existiram) tinham antes dessa chatice de "igualdade" pregada pelas macacas que odeiam os homens (as feministas, claro).
enfim, dentre as mil idiotices que o sujeito falou, ignorantão mesmo que ele é, estão coisas piores, que eu não vou falar agora, pq, que preguiça, né. e muitos blogs já divulgaram essa baboseira do podézinho, e o que me traz alguma felicidade é que tem muita gente q não faz idéia do que é feminismo disparando contra as erratas  do cara. siga o link: bocas no trombone ou digite "pondé restos à janela" e escolha onde vc vai ler esse troço.

aí que eu esperava uma reação com igual força do sujeito, me xingando, trazendo pro nível que ele começou no textículo dele. mas não! pasmem! ele foi educadinho, me mandou até abraço!
ó só:

Luiz Felipe Pondé para mim
(17 horas atrás)

voce foi muito radical Clarisse...
veja a questao num contexto sobre agonias contemporaneas, ai vc verá q a questão alem de retorica, é de fato real: insegurança, medo, solidao, obrigado por seu email. Abraço, Pondé

fofo. acho que ele tava sofrendo as tais agonias contemporâneas. ou era só mesmo dor de barriga, vai saber.
enfim, resolvi dar uma colher de chá pro cara e tentar explicar algumas coisinhas, com um pouco mais de educação, já que ele agora subiu o nível um tico, (aliás, que anti-feminino de mim, engrossar a voz, né! ficar xingando o "doutor"! devem ser os meus pelos que cresceram demais, peraí q já vou raspar).
aham, pronto. aqui vai a resposta da resposta da resposta:

Clarisse Alo para Luiz
mostrar detalhes 10:21 (1 hora atrás)

imagino que a idéia de que as mulheres sejam seres humanos e queiram igualdade é mesmo por demais radical pra você. de que possam ser felizes além da maternidade compulsória, além da heteronormalidade, além da projeção dos homens que crescem achando que beleza feminina é de plástico, seja uma noção por demais amedrontadora para quem está vendo seu mundo ruir.

na verdade eu acho que você está muito enganado na sua leitura sobre mulheres e homens, em generalizar de forma grosseira esses grupos, além da sua noção de feministas estar pra lá de estereotipada e superficial. se você queria fazer uma análise de como se sente perdido em um mundo em que a sexualidade é vivida de formas variadas, e onde as mulheres, feministas ou não, não tem que se obrigar a cumprir todos os serviços domésticos, sexuais e ainda servirem de bonequinhas "para" seus maridos, você deveria ter deixado mais claro que essa é uma dificuldade sua.

a agonia feminina, de que você tentou falar, não é fruto da conquista de direitos da pauta feminista, como o voto, o trabalho, ou ainda o divórcio, mas sim de não ter se livrado do modelo aprisionador de feminilidade e da quase total falta de empatia de muitos homens, que ainda acham que deve cair sobre a mulher todos os afazeres domésticos. ou você já se perguntou se essas mulheres que reclamam de ter de trabalhar dobrado e dizem, por se sentirem sobrecarregadas, que preferiam ter apenas um trabalho (o do lar), que se a situação não fosse tão desigual, se o trabalho fosse realmente dividido, elas não seriam felizes? ou você acha mesmo que todas as mulheres só querem mesmo é se dedicar ao espaço privado e isso faria com que sua existência fosse mais comlpeta? esas é sua leitura histórica?

e problematizar as tais "exigencias infinitas", onde estão mergulhadas as mulheres, não passou pela sua cabeça? de que essas exigências não são apenas internas, de que a imposição de uma certa beleza seja um fardo (para o qual muitas morrem em cirurgias plásticas), de que o espaço privado para o qual nos queriam escravas seja sufocante? e que isso somado ao trabalho, certamente sobrecarrega. mas o erro está em querer independência? essa foi a leitura que você fez. só essa.

essa inversão, de que o movimento social que propõe mudança e liberdade é o real perigo, o causador da maior desigualdade, não é novo, isso é backlash antiiigo. pesquise. já que está disposto a ler sobre o feminismo, leia susan faludi "backlash". (aqui um resuminho pra facilitar: http://www.h-net.org/~hst203/documents/faludi.html )

pra você, ser feminista é ser apenas uma "neopeluda" (como se a questão dos pelos fosse nova), é ter ódio dos homens, é ser feia e burra, certo? é ter inveja das "belas"? fico imaginando o que pensa uma pessoa com essa visão sobre a liberdade, sobre a construção social dos sexos e dos comportamentos, da sexualidade humana...

se o sexo não precisa mais ser comprado com jantares, o que será da humanidade, não é mesmo?
só pode ser o apocalipse! as mulheres querendo viver sua sexualidade livremente, ó céus!

não é novidade alguma que as mulheres estão sobrecarregadas. mas as tais "neopeludas" (eu, aliás, me depilo) são aquelas que buscam mostrar que a luta por igualdade está longe de acabar. e que isso passa por, também, poder decidir individualmente se depilar é algo que se queira fazer com seu próprio corpo.


the end

é isso ae, minhas amigas. desopilei e agora respiro melhor. faz bem, sabe.
o que vocês acham? vamos encher as caixas de emails desses caras até eles verem que não podem mais sair falando absurdos sem serem respondidos à altura?

em solidariedade feminista e em revolta fuzarqueira!!
clarisse

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Cine Feminista apresenta "Clandestinas - o aborto no Brasil"


O CIM e a MMM realizarão na sexta-feira, 17 de setembro, às 19h00 a exibição do filme Clandestinas: o aborto no Brasil, seguido de debate entre as presentes. Essa ação é parte da iniciativa da MMM e do CIM no mês de setembro, que é marcado pelo debate sobre a legalização do Aborto no Brasil.

Sobre o filme:
Trata-se do trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo da Universidade de São Paulo realizado por Ana Carolina Moreno, em 2006. Traz um panorama da situação da ilegalidade do aborto no Brasil, tendo como perspectiva a atuação do movimento de mulheres.  

Dia 17 de setembro, as 19h00 no CIM (Praça Roosevelt, 605, ao lado da igreja da Consolação).

Mulheres em Movimento Mudam a UFBA!

O DCE UFBA Gestão Primavera Nos Dentes convida a todas e todos a participarem do Ciclo de Debates Itinerantes Sobre a Mulher - Mulheres em Movimento Mudam a UFBA. O ciclo teve seu início no ano de 2009 e é uma ação da Diretoria de Mulheres do @dceufba em parceria com o Núcleo da Marcha Mundial das Mulheres na UFBA. O intuito do projeto é consolidar o debate de gênero dentro da Universidade, além de colocar na ordem do dia o combate a todas as formas de opressão.

O tema da primeira atividade será: Mais Mulheres na Política, Mais Política para as Mulheres; e terá como convidadas: Ana Alice Costa (NEIM), Joanna Paroli (UNE), Creuza Oliveira (SINDOMÉSTICA), Marta Rodrigues (PT Salvador) e Mãe Jaciara. O debate acontecerá no auditório do PAF III (campus de Ondina) no dia 15 de setembro (quarta), às 17 horas.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

I Curso de Formação Feminista

    A Marcha Mundial das Mulheres – Núcleo Viçosa - MG, realizou nos dias 19, 20, 21 e 22 de agosto, no Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata, o seu I Curso de Formação Feminista. Este foi um momento muito importante para o núcleo pois a formação das mulheres sobre a temática do feminismo sempre foi uma necessidade e preocupação constantes, apesar da correria que enfrentamos ao longo desses 3 anos que nos fizeram deixar em repouso uma grande atividade como esta.

    A grade do I CFF - Viçosa foi pensada no intuito de abarcar grandes temáticas do feminismo, para contribuir no aprofundamento teórico das militantes, fator indispensável para a compreensão e disputa da sociedade sob a ótica das mulheres. Assim, no dia 20 de agosto, tivemos os temas “O Histórico do Movimento Feminista no Brasil e no Mundo” e “A Invisibilidade da Luta das Mulheres e sua Contribuição na História das Revoluções”. Neste dia contamos com a companheira Maria Luiza, Assessora da Secretaria de Mulheres da CUT, para contribuir com a discussão. O dia foi puxado, mas as cursistas mantiveram a animação.

    No dia 21 pela manhã tratamos do tema “Economia Feminista”, um debate de central importância para o feminismo, que teve como facilitadora a militante da Marcha Mundial das Mulheres de Minas Gerias Débora Del Guerra. Durante a tarde, falamos sobre “Feminismo e Socialismo”, em que a engenheira florestal e militante feminista da MMM, Juliana Bavuzo, ex-membro do núcleo Viçosa, foi quem contribuiu mostrando porque o socialismo e o feminismo precisam coexistir. Nesse dia o curso foi aberto a participação dos nossos companheiros militantes de outros movimentos sociais, mostrando a compreensão e reconhecimento mútuo da importância das relações entre os movimentos, além da necessidade de consolidação da luta feminista como ferramenta central na construção de uma outra sociedade.

    Na parte da noite aconteceu o lançamento do Vídeo da III Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres no Brasil. A MMM está realizando em vários países do mundo ações de luta das mulheres entre os dias 08 de março e 17 de outubro de 2010, e dos dias 16 a 23 de agosto de 2010 ocorrerá na Colômbia o Encontro Internacional de Mulheres e Povos das Américas contra a Militarização. Dessa forma, o lançamento do vídeo da III Ação Internacional acontecerá em várias cidades do Brasil entre essas datas, com intuito de fortalecer nossa solidariedade com as mulheres Colômbia.

    Já pegando o gancho, no dia 22 de agosto pela manhã contamos com a participação da Consola, candidata a Deputada Estadual pelo PSOL e militante feminista histórica, bem como com Alessandra Terribili, 1ª Diretora de Mulheres da UNE e jornalista, que debateram a “Relação do Movimento Feminista com outros Movimentos Sociais e Partidos”.   Durante a tarde e para finalizar o curso, a companheira Renata Moreno, mais conhecida como Tica, cientista social e integrante da Secretaria Nacional da Marcha Mundial das Mulheres discutiu com a gente a “Conjuntura da Luta das Mulheres”, debatendo o que está acontecendo hoje e quais são os nossos desafios.

      Por fim, queremos agradecer a todas as personagens que estiveram presentes e foram muito importantes na construção e chamamos atenção ao apoio dos grupos alternativos de Viçosa-MG, que cederam a data e o local acima expostos para a realização deste curso, e ao Centro de Tecnologias da Zona da Mata, local do curso. Esperamos que cursos como esses se espalhem por todos os cantos, cheio de gente interessada e animada, disposta a discutir, desconstruir e se reconstruir naquele tempo e espaço que será único como foi o de Viçosa.
         Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres! Saudações feministas !!!

                                                                                         
                                                                                         Núcleo Viçosa da Marcha Mundial das Mulheres

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Brechó Feminista dia 25 de Setembro das 11 às 18hs na SOF

Sabe aquela roupa no fundo do guarda roupa?

Aquela que você adora, mas não usa há um tempão? Ou aquela que você comprou e depois viu que não tinha nada a ver? É dessas que estamos falando!
Pergunte para as amigas e parentes quem tem dessas também e traga suas doações para o Brechó Feminista que acontecerá na SOF dia 25 de setembro das 11 às 18hs. 

As doações serão recebidas na SOF (Rua: Ministro Costa e Silva, 36. Pinheiros/SP) das 9h às 18h30 até o dia 24 de setembro.

sábado, 4 de setembro de 2010

“O feminismo não morde”

 Dalia Acosta entrevista a antropóloga e feminista mexicana Marcela Lagarde, para IPS, em La Havana
Dalia Acosta
Tradução: Vinicius Mansur
Com pouco mais de um século de existência, o feminismo perdura na América Latina e no mundo, mas sua vida como ideologia reivindicadora das mulheres simula um efeito de ondas encrespadas, com pontos elevados e quedas vertiginosas.
Assim define a antropóloga e feminista mexicana Marcela Lagarde esta "crítica persistente da modernidade", que no início do século XXI vive um momento atípico pela diversidade geracional de suas militantes e sua extensão, através de estudos de gênero, a outros espaços sociais, acadêmicos e de produção científica.
"O feminismo não morde", enfatiza Lagarde, profesora da Universidade Nacional Autônoma do México e uma das promotoras da Lei Geral de Acesso das Mulheres a uma Vida Livre de Violência, vigente desde 2 de fevereiro de 2007 e da introdução do delito de feminicídio no Código Penal, no México.
Lagarde, presidenta da Rede de Pesquisadoras pela Vida e Liberdade das Mulheres conversou com IPS durante sua visita a Cuba.
IPS: Quais são as causas da permanência dos preconceitos com o feminismo, inclusive entre os mesmos movimentos de mulheres ou em países como Cuba que promovem políticas a favor da população feminina?
MARCELA LAGARDE: Não houve uma continuidade na transmissão do papel do feminismo na cultura moderna. Parece que há etapas nas quais se perde a memória histórica e logo há que voltar a recuperar-la. Como o feminismo é uma crítica da sociedade patriarcal, foi percebido como perigoso por aqueles que estão de acordo ou assumem como inevitável a sociedade, a cultura e o poder patriarcais.
O feminismo faz a crítica do patriarcado como uma construção metapolítica, que atravessa sociedades e épocas e propõe alternativas concretas. O poder patriarcal é um poder monopolizado pelos homens. Usam também outros valores e alternativas que podem ser percebidas como perigosas, que mordem, porque estão destinadas a eliminar a dominação de gênero.
Aqueles que não estão de acordo fazem o que sempre se faz na luta política: idealizar o inimigo, neste caso, as mulheres e feministas. Atribuem a elas características perigosas e muitas falsidades. Previamente, há uma cultura bastante misógina, sexista, machista. A essa misoginia social se soma a misoginia política que é o anti-feminismo.
IPS: Como se define o anti-feminismo? Quanto ele se estendeu?
ML: É a deslegitimação do que o feminismo contribuiu com a humanidade. Se transmite agora em mulheres e homens, porque nós mulheres nas sociedades patriarcais fomos educadas e socializadas para funcionar patriarcalmente. Algumas nos tornamos feministas, mas isso implica um conhecimento distinto para criticar nossa própria cultura, identidades e condição de gênero, que tem uma enorme marca patriarcal.
Toda esta ignorância generalizada contribui ao anti-feminismo. Desde o poder dominante, constantemente há uma política anti-feminista estendida e extensiva. Repetimos preconceitos que nunca corroboramos, mas os temos como parte das nossas ideologias e cultura em que vivemos.
O humor está carregado de misoginia e de misoginia política, com as comparações permanentes, que as pessoas repetem, e é parte da cultura de massas. Não temos a força cultural tampouco para respondê-lo a cada momento com um discurso próprio.
IPS: O que significou para as mulheres contemporâneas a invisibilidade do feminismo?
ML: Determinados grupos de mulheres vão nascendo ou desenvolvendo-se com avanços já conquistados pelo feminismo desde o século XVIII, mas não os ponderam nem valorizam porque já os tem: educação, acesso ao mundo laboral, emprego, renda ou participação política.
Tivemos que aprender sobre feminismo pesquisando por nossa conta para saber o que havia acontecido, porque não o ensinavam na escola, nem nas universidades. Não se transmite de uma geração a outra como os conhecimentos de engenharia ou de ciência da física.
Este esquema muito androcentrico provoca uma ignorância enorme por parte de mulheres e homens sobre o feminismo e sua contribução à modernidade. Agora já estamos conseguindo que se incorpore este saber nas universidades, mas ainda não está na educação primária, nem na secundária. Em muitos países, não há nem nas pós-graduações matérias, seminários, grupos de estudo de gênero e feminismo.
IPS: E na prática? Se Poderia falar de feminismo como uma mudança de vida e aliança entre mulheres?
ML: Ajuda a vencer a misoginia contra as outras mulheres e a ela mesma, favorece a aproximação e intercâmbio de idéias sobre o que cada uma avançou em sua própria vida. Nós mulheres feministas aprendemos muito de outras mulheres por nosso método de trabalho.
Além do acadêmico, temos muitos espaços de encontros íntimos entre mulheres, a onde aprendemos umas das outras e nos apoiamos. Todo este apoio formidável nos empodera, porque desenvolve uma força interior e logo social muito importante: uma força de afirmação de gênero que lhe autoriza e valoriza como mulher em um mundo que nos ataca o tempo todo.
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/analise/201co-feminismo-nao-morde201d/view

Consequências da guerra para as mulheres não são discutidas

International Herald Tribune
Nilanjana S. Roy
Nova Déli (Índia)
 
Mulher desabrigada pelas inundações carrega criança em Muzaffargarh, na região central do Paquistão  
 
Os números são controversos, mas a história que contam continua a mesma há quatro décadas: 200 mil mulheres (ou 300 mil, ou 400 mil, dependendo da fonte) foram estupradas durante a guerra de 1971 em que o Paquistão do Leste rompeu como Paquistão do Oeste para se tornar Bangladesh.

A feminista norte-americana Susan Brownmiller, citando os três grupos de estatísticas em seu livro de 1975 intitulado “Contra Nossa Vontade: Homens, Mulheres e Estupro”, comparou os estupros de Bangladesh com os de mulheres chinesas pelos soldados japoneses em Janjing em 1937-1938.

Mesmo a menor estatística de Bangladesh leva a uma comparação horripilante – a guerra de 1992-1995 na Bósnia teve um décimo do número de estupros da guerra de Bangladesh. Os estupros de mulheres bósnias obrigaram o mundo a reconhecer o estupro como um “instrumento do terror”, como um crime contra a humanidade. Mas até agora ninguém foi preso por violência sexual contra as mulheres de Bangladesh em 1971.

Com a chegada do 40º aniversário da guerra de 1971, o governo de Bangladesh estabeleceu um Tribunal Penal Internacional para investigar as atrocidades daquela época. Mas os defensores dos direitos humanos e advogados temem que os estupros em massa e assassinatos de mulheres não sejam abordados de forma adequada. Eles esperam garantir que sejam.

“Há uma espécie de negação da história da guerra por parte de certos grupos políticos, e uma falha ao responder aos crimes de violência sexual contra as mulheres", diz Sara Hossain, advogada de direitos humanos em Dhaka.
Durante anos, as experiências das mulheres – guerrilheiras pela independência, vítimas de estupro, viúvas – durante a guerra receberam pouca atenção, suas histórias raramente eram contadas, e a violência que viveram raramente era reconhecida.

“Quando eu era adolescente em 1971, ouvi muitas histórias sobre alunas de universidades, jovens e mulheres dos vilarejos que eram estupradas e mantidas em cativeiro, efetivamente forçadas à escravidão sexual, na base militar. Mas depois da guerra, em pouco tempo, não se dizia mais nada”, diz Irene Khan, ex-secretária geral da Anistia Internacional.

“Sim, nós costumamos falar sobre as centenas de milhares de mulheres que foram estupradas, obrigadas à escravidão sexual, mas raramente há nomes ou rostos ou histórias individuais”, diz Khan, que nasceu em Dhaka, hoje capital de Bangladesh, e estudou na Inglaterra e nos Estados Unidos. “A sociedade muçulmana conservadora preferiu lançar um véu de negligência e negação sobre o assunto, permitindo que aqueles que cometeram a violência de gênero ou foram coniventes com ela saíssem impunes, deixando as vítimas no anonimato e na vergonha e sem muito apoio da comunidade ou do governo.”

Em Dhaka, Meghna Guhathakurta, diretora-executiva do grupo não-governamental Research Iniciatives em Bangladesh, insiste que a situação dessas mulheres não pode ser ignorada. “O tema do papel das mulheres durante a guerra de libertação tem emergido de tempos em tempos nos grupos de mulheres. Ele não pode mais ser ignorado.”

No final deste ano, a primeira tradução em língua inglesa de uma importante história oral, “Women's 1971” [algo como “O 1971 das Mulheres”], será publicada. Ela reúne os testemunhos de mulheres que não foram apenas vítimas, mas guerrilheiras como Taramon Bibi, uma das duas mulheres condecoradas por seu serviço no combate durante a guerra, ou que, como Ferdousi Priyobhashini, hoje escultora, usaram suas experiências na guerra como uma fonte para a autotransformação. Das 19 mulheres cujas histórias aparecem nessa coleção, 15 são muçulmanas, duas hindus e duas budistas.

Guhathakurta escreve em sua introdução: “das 19 entrevistadas, nove foram vítimas de estupro. O restante falou sobre suas dificuldades e tribulações depois que membros de suas famílias foram assassinados.”

O trauma das que sobreviveram ao estupro e outros tipos de violência não foi suficientemente abordado em Bangladesh, diz ela. “Sentimos que é necessário para as autoridades, a sociedade civil e a comunidade internacional revisitar o tema da violência sexual e dos crime de guerra.”

Alguns acreditam que é essencial acabar com décadas de negação.
“O maior desafio”, diz Mofidul Hoque, membro e secretária do Museu da Guerra de Libertação em Dhaka, “é como ler o silêncio. Tenho confiança de que iremos ouvir muitas vozes novas, presenciando a quebra do silêncio.”

Um dos principais eventos planejados para o 40º aniversário no ano que vem é um festival de documentários sobre a guerra de 1971 e os direitos humanos, com uma sessão especial sobre as mulheres. Outro projeto se concentra na pesquisa sobre as vidas de crianças nascidas depois de 1971, filhas de “birangonas”, ou “sem culpa”, como foram chamadas pelo novo governo de Bangladesh em 1972, numa tentativa não muito bem sucedida de persuadir as famílias a aceitarem novamente as mulheres que haviam sofrido violência sexual.

E esta guerra teve histórias assombrosas. O jovem cineasta Ananda documenta o trauma persistente do vilarejo de Shohagpur em seu filme “The Village of Widows” [“O Vilarejo das Viúvas”], que também será exibido no ano que vem. Em julho de 1971, soldados paquistaneses chegaram a este local tranquilo, que supostamente apoiava os guerrilheiros pela independência conhecidos como Mukti Bahini. Eles juntaram todos os homens e os mataram. Quatro décadas depois, conforme registra Ananda, Shohagpur não tem nenhum homem velho. As mulheres vivem ao lado dos túmulos de seus mortos.

Será que a justiça é possível depois de tantas décadas? Será que ela está sendo exigida? O Tribunal Internacional de Crimes em Bangladesh começou fazendo acusações.

Entretanto, diz a advogada Hossain: “não está claro se os crimes de violência contra mulher serão abordados ou formarão a base dos processos. Não há nenhuma mulher entre os membros do tribunal ou promotores. Mas esperamos que os investigadores levantem esse tema – e que o governo garanta um ambiente seguro para as mulheres testemunharem.”

Khan, cuja carreira como defensora dos direitos humanos a levou até a Bósnia, Serra Leoa e outros cenários de guerra, é mais cética. “Foi só depois da Bósnia que o Estatuto de Roma”, o tratado que estabeleceu o Tribunal Penal Internacional, “tornou o estupro um crime de guerra. Há 40 anos, a violência de gênero como arma de guerra não era compreendida, não só em Bangladesh mas no mundo inteiro”, diz ela.

“Bangladesh só agora está lidando com seus crimes de guerra – e com grande dificuldade, dada a forma como o assunto é visto na política dos partidos religiosos fundamentalistas”, diz ela. “A dimensão de gênero das atrocidades não é totalmente reconhecida, nem a enorme contribuição que as mulheres deram à luta pela libertação como guerrilheiras ou apoiadoras. Bangladesh continua sendo uma sociedade conservadora e patriarcal onde o papel da mulher continua sendo subvalorizado – no passado ou no presente.”
 
Tradução: Eloise De Vylder