quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Natura demite funcionárias lesionadas

A empresa de cosméticos brasileiros Natura, conhecida por propagar ideais de sustentabilidade e bem estar, demitiu no dia 29 de novembro, 29 trabalhadoras e um trabalhador lesionados (as). Vítimas de Lesão por Esforço Repetitivo (LER), doença ocupacional que pode se tornar irreversível, foram demitidos (as) sob alegação de baixa produtividade.

As trabalhadoras e o trabalhador demitidos (as) estavam em processo de realibilitação, atuando em linhas de produção específicas para funcionários em recuperação. As funcionárias e funcionário adoeceram em decorrência de seu trabalho nas linhas de produção da Natura, fato que é reconhecido pela própria empresa, que abriu Comunicados de Acidentes de Trabalho (CAT) para todos os casos.

A denúncia da demissão foi feita pelo Sindicato dos Químicos Unificados, cujo médico. Dr. Roberto Carlos Ruiz, declarou que os casos necessitam de atenção médica especializada, em caráter prolongado. As demissões de funcionários lesionados têm sido recorrentes na Natura, sendo que desta vez ocorreu em maior número. Segundo Paulo Soares, dirigente do Sindicato dos Químicos Unificados, a Natura mostra a verdadeira política escondida sob o marketing da empresa com as demissões. Embora a legislação trabalhista não permita, entre as demitidas estão funcionárias afastadas pelo INSS.

O Sindicato dos Químicos Unificados tomou uma série de medidas para reverter a situação, mas até agora a Natura se recusa a rever as demissões. Uma reunião foi realizada com a empresa, que proibiu a comissão formada por parte das trabalhadoras demitidas de se pronunciar. Hoje (15/12), a comissão está em Brasília junto com representantes do Sindicato para entregar um dossiê sobre a Natura para Marina Silva (Guilherme Leal, dono da empresa, foi seu candidato a vice-presidente nas últimas eleições) e também para parlamentares que fazem parte da Comissão de Relações de Trabalho.

O Sindicato pretende contatar os funcionários contratados pela Natura em outros países, além de entrar com uma ação jurídica contra a empresa e denunciá-la ao Ministério do Trabalho e à OIT (Organização Internacional do Trabalho). Amanhã (16/12), às 10h, haverá mais uma reunião da comissão com o Sindicato.

A empresa

A Natura é líder no mercado de cosméticos no Brasil, conquistando espaço também em países da América Latina e Europa. Recentemente, passou a produzir também na Argentina. Até setembro de 2010, sua receita líquida foi de 3,579 bilhões de reais, uma ampliação de 22,5% em relação ao mesmo período em 2009 (fonte: Brasil Econômico).

Seu crescimento pode ser atribuído a campanhas publicitárias de ampla divulgação midiática, em que estão presentes conceitos como proteção ao meio ambiente, sustentabilidade, responsabilidade social e respeito às comunidades tradicionais. Segundo o site da empresa, a Natura se orgulha de promover “atitudes que fazem diferença para o planeta”, ostenta o slogan “Bem estar bem”, mesmo já tendo sido multada pelo IBAMA por acessar irregularmente recursos da biodiversidade.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

FORMAÇÃO FUZARCA FEMINISTA SOBRE PROSTITUIÇÃO EM SP, NA SOF

DEBATE SOBRE A PROSTITUIÇÃO
QUANDO: 11/12/2010 SÁBADO das 15h00 às 18h00.
ONDE: SOF

No próximo sábado, às 15h00, na SOF, vamos fazer um debate aberto sobre a Prostituição.

Estamos às vésperas de dois grandes eventos esportivos que atrairão muitos turistas para cá. Há algum tempo corre pelos corredores do Congresso Nacional um projeto que visa a descriminalização dos chamados cafetões e cafetinas. No ano que vem será lançado o filme – com direito a protagonista global - sobre famosa garota de programa que contou sua história num livro que alcançou grande vendagem.

O debate sobre o tema sempre esteve presente no movimento feminista. As posições, porém, não são as mesmas. Existem aqueles e aquelas que acham que a solução é legalizar a “profissão”, existem aquelas e aqueles que questionam a ideia de que prostituir-se possa ser entendido como profissão.

A gente entende que a legalização da prostituição serve aos interesses dos que se apropriam desse negócio extremamente rentoso. A gente sabe também que as mulheres em situação de prostituição convivem com a violência e que, ao contrário do que dizem por aí, ser garota de programa não significa glamour, além disso, quase todos os dias ficamos sabendo que a exploração sexual de mulheres e meninas muitas vezes se dá sob coerção e ameaça e alimentam um rede de tráfico de pessoas tão rentosa quanto trafico de drogas e de armas.

Diante de tudo isso, a Fuzarca Feminista, chama a todas para esse momento de debate e de formação! Se você acha que o mundo não é uma mercadoria e que as mulheres também não, venha contribuir com esse debate!

A SOF fica na Rua Ministro Costa e Silva, 36 Pinheiros
(Essa rua é uma travessa da Rua Mourato Coelho, na altura do nº 913)
Para mais informações: 11-3819-3876 Falar com Camila, Clasisse ou Tica

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Comissão de Direitos Humanos da Câmara de São Paulo discute combate à homofobia e outras formas de discriminação


 
O presidente da Comissão de Direitos Humanos, Cidadania, Segurança Pública e Relações Internacionais da Câmara Municipal de São Paulo, ver. Ítalo Cardoso, convida para: 

Reunião Ordinária “Não à homofobia e outras formas de discriminação” 

A ser realizada ao dia 2 de dezembro de 2010, às 13h, na Câmara Municipal de São Paulo – Palácio Anchieta (Viaduto Jacareí, nº 100, sala Sérgio Vieira de Melo [subsolo], Bela Vista) 

Com a finalidade de articular estratégias de coibição adequada aos crimes de ódio – que incluem o racismo, o machismo e a xenofobia – o monitoramento da impunidade e analisar os padrões de segurança que garantam a dignidade e cidadania dos grupos discriminados. 

A atividade é convocada pelas entidades Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT); o Fórum Paulista LGBT; a Conexão Paulista LGBT; o Grupo CORSA; a Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo (APOGLBT); o Instituto Edson Néris (IEN); o Coletivo de Feministas Lésbicas (CFL), o Espaço B e as Católicas pelo Direito de Decidir. 

Mais informações com 
Julian Rodrigues: 11 8380-2629 julianvic@gmail .com 
IrinaBacci: 11 92598621 irina_bacci@yahoo.com 
Beto Jesus: 118593-9977 betojesus@uol.com.br 
Valeria Melki: cddbr@uol.com.br 
Iderald Beltrame : idbeltrame@uol.com.br

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O machismo mata! Todas as ruas nesse 25 de novembro.

25 DE NOVEMBRO: Dia Latinoamericano e Caribenho de Luta contra a violência a Mulher

Ato às 15 horas, em frente a Secretaria da Justiça de São Paulo no Pátio do Colégio (Próximo ao Metrô Sé)




Festival da Mulher Afro Latino Americana e Caribenha 2010

De 24 a 26 de novembro acontecerá a terceira edição do Latinidades, Festival da Mulher Afro Latino Americana e Caribenha 2010, na Esplanada dos Ministérios. Serão cinco seminários, shows, exibição de curtas e feira afro. O evento acontecerá dentro da Conferência do Desenvolvimento, CODE, promovida pelo Ipea na mesma data.

Toda a programação é gratuita (segue detalhamento em anexo). Para se inscrever nos seminários acesse: www.ipea.gov.br/code

Confira a programação e participe!

 


quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Isso não foi uma brincadeira!

Mais uma vez o machismo mostrou que ainda está presente naquele que deveria ser o espaço de maior reflexão sobre a sociedade: a universidade. Entre os dias 09 e 12 de outubro, em Araraquara, estudantes  da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) realizaram o Interunesp. O maior evento esportivo e cultural de jogos universitários do Brasil, a edição desse ano contou com a participação de 15 mil jovens.
 No último dia 27 de outubro, jornais de todo o estado de São Paulo publicaram um chocante acontecimento ocorrido durante o Interunesp (leia a matéria aqui). Cerca de 50 estudantes encabeçaram mais uma forte expressão do machismo chamado de “rodeio de gordas”. O rodeio consistia basicamente em os meninos se aproximarem das meninas, de preferência, as acima do peso, como se fossem paquerá-las, depois as agarravam, montados em cima delas ficando o máximo de tempo possível, exatamente como os peões fazem nas arenas.
 Os meios de comunicação e a sociedade trataram o caso como bullying. Entretanto, ao contrário da maneira como foi tratado, o “Rodeio de Gordas” é uma forte expressão do machismo ainda presente na sociedade em que vivemos. Pode ser considerado bullying, mas é preciso caracterizar este bullying como machista.
 Casos como esses só ocorrem graças à ditadura da beleza imposta pela sociedade capitalista e machista e reforçado pelos meios de comunicação. O que aconteceu na UNESP representa o que vemos em diversos espaços públicos: o tempo todo as mulheres são julgadas de acordo com sua aparência estética. Parece que para ser valorizada como profissional, a mulher deve, primeiro, corresponder a um ideal estético que se refere a um modelo de feminilidade que nos coloca em uma situação de subordinação com relação aos homens na sociedade.
Nós, mulheres estamos na universidade porque muitas que vieram antes de nós reivindicaram o direito das mulheres à educação. As mulheres representam hoje 55% dos estudantes universitários. Ainda há desafios a ser superados, no sentido de romper preconceitos e discriminações sociais que concentram as mulheres em áreas do saber relacionadas ao que é tradicionalmente considerado feminino, como alguns cursos de humanas e saúde (pedagogia, enfermagem, etc). Mas o “rodeio das gordas” nos remete a outro desafio colocado para a presença das estudantes na universidade: o reconhecimento de que temos direito de ocupar esse espaço, e que devemos ser respeitadas como sujeitos que estão em pé de igualdade com os homens no que se refere à produção de conhecimento, por exemplo. Ao contrário do que querem muitos, não somos apenas corpos que enfeitam a universidade enquanto os homens estudam. Somos seres pensantes, construímos o conhecimento, a economia, a cultura e a sociedade.
O machismo não é criado pela universidade, mas esta que deveria ter o papel de transformar as relações de desigualdade que estruturam a sociedade, está na verdade reproduzindo a opressão. Infelizmente, o Rodeio das gordas não foi um fato isolado, tampouco é uma brincadeira, como os estudantes afirmaram. Insere-se na mesma leva de manifestações machistas que a agressão à Geisy Arruda na Uniban, à rifa de mulheres em um Encontro de Estudantes de História, aos vários exemplos de festas e calouradas extremamente sexistas, seja no cartaz, seja no trote. Nós, mulheres organizanadas no movimento estudantil e na Marcha Mundial das Mulheres na luta pelo fim do machismo nos solidarizamos com todas as estudantes e exigimos punição a todos os envolvidos nesse caso e em todos os outros que não repercutem na mídia.
Jéssika Martins Ribeiro é vice-presidente da União Estadual dos Estudantes (UEESP) e militante da Marcha Mundial das Mulheres

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Entre alegrias e tristezas

Acabamos de eleger a primeira mulher para o cargo de presidente do Brasil, Dilma Rousseff. A primeira coisa que me vem a cabeça quando penso nisso é no avanço dessa conquista e me emociono ao lembrar da frase muito usada por nós feministas “Lugar de mulher é na política”. Mas minha alegria dura pouco, basta eu entrar em algum jornaleco na internet ou blog de humor, ou mesmo sentar em uma mesa de bar como alguns homens nada 'esclarecidos' que meu momento de alegria passa e me vem um sentimento de indignação. E eu me coloco a refletir acerca de um trecho de Simone de Beauvoir em “O Segundo Sexo”, meu livro de cabeceira, que diz que enquanto as mulheres não se verem enquanto sujeitos, não tiverem um sentimento de nós enquanto mesmo, a relação de opressão não mudará e elas serão sempre o outro. Pois não existe um nós mulher como ocorre em outras relações de opressão, salvo algumas raras organizações feministas, as mulheres nunca conquistaram nada, a não ser aquilo que seus opressores quiseram dar a elas, assinala Beauvoir.

Esse trecho me angustia, me da náusea, pânico, desespero... até quando vai ser assim? Até quando essa sociedade machista vai nos agredir, vai nos impor comportamentos, esteriótipos. Será que agora que temos uma mulher na presidência conquistaremos respeito? Tenho medo da resposta, essa campanha suja e maldosa, incentivou a falta de respeito até pela presidenta, me corria ao ver as campanhas da oposição dizendo que ela não tinha história, não tinha potencial nem competência, tinha uma que a porta de um estabelecimento fechava e um homem dizia “a única vez que ela não teve um chefe teve que baixar as portas”, ou algo parecido com isso, nojo. 
 
Depois de uma charge no inicio da campanha ter relacionado a atual presidenta eleita a uma garota de programa, desrespeitando não só a candidata como a todas as mulheres, o debate preconceituoso e agressivo em torno da legalização do aborto e da união civil de pessoas do mesmo sexo, e no segundo turno o candidato pelo PSDB ter pedido as “mineiras bonitas” que consigam voto para ele, entre outras coisas machistas, absurdas e preconceituosas que se ouvia por ai. Deparei-me ontem com algo que considero absurdo, piadas abusivas, desrespeitosas e machistas, em uma página de um “humorista” que descreve seu humor como “de prima pra deixar a vida masculina ainda melhor” que medo do que vem abaixo. O cara “super engraçado” enumera as 10 primeiras medidas que serão tomadas pela primeira presidenta mulher da história do Brasil, e faz piadas com os planos de governo relacionando com esteriótipos atribuídos a mulheres. Com relação a saúde da mulher por exemplo, o projeto a ser implantado é implante de botox e silicone (HORRIVEL!!!!!!), o PAC, vira programa de aceleração do casamento (TOSCO!!!), dentre outras coisas absurdas. A postagem ridícula, veio seguida de vários comentários que apoiavam o autor e agrediam aqueles que deixaram seu comentário criticando a piada. Chamando homens que se posicionou contra de “bichona” e as mulheres de feministas-sem-causa, sem senso de humor, chatas, feias e encalhadas, um deles inclusive teve a audácia de perguntar “Quem será a primeira dama que vai morar com ela no Palácio Alvorada?”. Será mesmo que são as feministas que não tem senso de humor, ou as pessoas que perderam completamente a noção de respeito? Só pra constar, o meu mal humor eu costumo chamar de senso crítico. Não tenho nada contra o humor, só não rio de piadas sem graça.

Me retorci resto do dia inconformada com tamanha agressão, à presidenta, às mulheres, e às feministas. Até quando nós mulheres vamos ter que carregar esses estigmas? Ouvir que política é coisa de homem, que a mulher tem ser meiga, delicada e sensível? Até quando fatores biológicos vão ser usados para justificar a diferença no plano político e no dos direitos? Que as características femininas específicas (absurdo!!!) a impedem de participar do mundo público, tendo esta como função a família e os filhos, que mulher que não tem filho não se realiza? (essa me dói).

Mas em uma campanha que se fez como base o machismo, o preconceito e a violência teve como paradoxo duas mulheres candidatas e uma delas eleita para ocupar o cargo mais alto do poder executivo. Fato este que é sim um avanço importante, e estou orgulhosa e feliz tanto por ter participado como principalmente contribuído nesse processo. E fica a mensagem, não basta elegermos mulheres, elas tem que nos representar, e Dilma me representa, é uma mulher que ao contrario do que dizem por aí, traz na bagagem toda uma história de luta e de coragem. E é essa sua coragem que vai servir de exemplo para as mulheres, para esquerda que acredita da democracia e no socialismo, e nos incentiva a continuar lutando, porque o caminho ainda é longo e dolorido, e temos muito o que conquistar, conquista que mesmo se cedida pela cultura patriarcal, será um premio da vitória da luta das mulheres, porque agora, nós também fazemos a história.

Carol Radd, diretora de mulheres da União Estadual de Estudantes de Minas Gerais, militante da Kizomba e Marcha Mundial das Mulheres
 

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Tabu no Brasil, aborto é menos restrito na maioria dos países

Estamos em um país sul-americano colonizado por europeus católicos. Nação que sofreu com uma ditadura sangrenta e só anos depois, com a democracia já instaurada, assistiu aos generais responsáveis por dizimar a esquerda armada serem julgados e condenados. Em seguida, e não sem grande polêmica, seu Senado aprovou o casamento gay. Agora, a próxima pauta em discussão é a descriminalização do aborto.

O país colonizado a que se refere o parágrafo não é o Brasil. Diz respeito à Argentina. Nesse mesmo mês de outubro de 2010, enquanto nossos vizinhos iniciam um debate com chances reais de legalizar interrupções voluntárias de gravidez (IVG), assistimos aqui ao oposto, com a perseguição a quem defende tal posicionamento. Que o digam os candidatos à Presidência do Brasil José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), cujas campanhas buscam dissociá-los de qualquer ação pró-aborto. Afinal, qual a explicação para tamanha discrepância, em países tão próximos, geográfica e historicamente?

Arte/Opera Mundi


Status legal do aborto no mundo. Clique aqui para mais informações (em inglês).
 Veja as restrições legais ao aborto em cada país
Fonte: Center for Reproductive Rights (EUA), dados de 2009; na Espanha, a legislação foi alterada em 2010 

"Durante os últimos anos, e devido principalmente ao trabalho incansável do movimento de mulheres, a opinião pública mudou", analisou a advogada argentina Susana Chiarotti, co-autora do livro Realidades y coyunturas del aborto - entre el derecho y la necesidad (Realidades e conjunturas do aborto - entre o direito e a necessidade, sem tradução para o português), que cita o Brasil como um exemplo de retrocesso.

O caso narrado é episódio em 2004, quando, durante quatro meses, foi possível realizar abortos de fetos anencéfalos, ou seja, que não tiveram a formação neurológica correta e não conseguiriam sobreviver fora do útero. A autorização foi possível graças a uma ação ajuizada naquele ano pela CNTS (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde), que alegou ofensa à dignidade humana da mãe, prevista no artigo 5º da Constituição Federal. Na ocasião, o STF (Supremo Tribunal Federal) brasileiro entendeu que era preciso antes validar o mérito do instrumento utilizado pela CNTS, a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, o que ocorreu em 2005. Desde então, a ação aguarda julgamento do Supremo.
Leia a série de reportagens:
Aborto ilegal é 300 vezes mais perigoso para a mulher que o legal
Aborto: nos EUA, governo Bush deixou marcas que Obama tenta apagar
Veja as restrições legais ao aborto em cada país

Se aprovar a descriminalização do aborto sem pressupostos, a Argentina se somará a outros 56 países do mundo que adotam essa prática – variável a depender do tempo limite de gestação para realizar a prática. Além deles, 37 nações admitem IVGs por motivos econômicos ou de saúde mental e mais 36 aceitam a interrupção para preservar a saúde física da mulher, de uma maneira mais ampla – grupo ao qual os argentinos já fazem parte, com destaque para a legislação da província de Buenos Aires.

No caso de Estados Unidos, México e Austrália, a legislação nacional dá ampla liberdade para o aborto, mas os estados da federação podem limitá-lo ou até mesmo proibi-lo. No total, são 93 Estados que, de forma menos restritiva, descriminalizaram o aborto, de acordo com os dados da associação Reproductive Rights. Algo em torno de 74,3% da população mundial.

Do outro lado dessa conta está o Brasil e outros 67 países que proíbem completamente a prática ou abrem uma exceção bastante limitada, como em caso de risco extremo para a vida da mãe e de estupro. Estes somam 25,7% dos habitantes do planeta, a maioria na África, América Latina e no mundo islâmico.

"Especialmente nos países da América Latina há uma influência muito forte do catolicismo Existe um movimento conservador em torno dos temas dos direitos reprodutivos e o Brasil não fica atrás. Temos uma bancada de parlamentares que se diz em defesa da vida, mas só estanca o debate e tenta retroceder naqueles pontos onde o aborto já foi aprovado, ou seja, em caso de estupro e risco de vida", afirmou Rosângela Dualib, da associação Católicas pelo Direito de Decidir, que atua na Europa e na América.

Leia mais:
Em defesa da vida, o aborto
Um continente, muitas diferenças
EUA aprovam "pílula dos cinco dias seguintes"
Madrilenhos protestam contra projeto de liberação do aborto
Governistas querem voltar a debater legalização do aborto no Uruguai
Argentina se prepara para discutir a polêmica ampliação do direito ao aborto
Encarceradas por abortar: mexicanas cumprem penas de até 30 anos em Guanajuato

Novas perspectivas

Entre os que recentemente modificaram a legislação favoravelmente ao aborto está a Espanha. Desde fevereiro deste ano, o país, de forte tradição católica, mas laico, autoriza a interrupção da gravidez até a 14ª semana, sem qualquer restrição, e até a 22ª condicionada à risco à vida da gestante ou má formação fetal. A grande novidade, porém, ficou por conta da permissão de jovens entre 16 e 18 anos, consideradas menores de idade, a interromperem voluntariamente a gravidez sem consentimento dos pais. O ponto foi um dos mais ressaltados nos protestos contrários à aprovação da lei.

No vizinho e igualmente devoto Portugal, a alteração ocorreu há três anos, referendada por plebiscito popular em que a descriminalização do aborto obteve 59% de aprovação. A diferença para a Espanha ficou justamente na notificação parental de adolescentes, ainda obrigatória. Apenas entre 2008 e 2009, cerca de 39 mil abortos foram feitos legalmente no país.

A lei portuguesa se assemelha também a de outro país próximo onde o aborto já é uma realidade há quase cinco décadas: a França. Em ambos, há um tempo mínimo obrigatório para refletir sobre a decisão a partir do atendimento inicial dado à mulher pelo sistema público de saúde. Quem optar por interromper uma gravidez recebe apoio psicológico e social para lidar com a situação.

Associado a isso está a disseminação de políticas de planejamento familiar e prevenção de gravidez, que recebem bastante ênfase (e verbas) na Europa. De acordo com Anne Daguerre, pesquisadora associada da Sciences Po, em Paris, "a Holanda é o melhor exemplo de uma política empreendedora em matéria de educação sexual e acesso aos contraceptivos: 75% das holandesas de 15 a 44 anos utilizam algum método moderno para evitar a gravidez. Como consequência, a taxa de abortos no país é uma das mais reduzidas da Europa: oito em cada mil gestações. As IVGs são praticadas em clínicas especializadas, por médicos altamente qualificados. E o atendimento conta com a cobertura integral de uma empresa pública de seguros."

De fato, uma pesquisa feita em 2007 pela OMS (Organização Mundial da Saúde) demonstra que nos países onde o aborto é permitido por lei, o número de procedimentos tende a cair – com exceção de Cuba e do Vietnã, onde o acesso a métodos contraceptivos é bastante restrito. "A prática tem mostrado que, nos países onde o aborto é legalizado, há um crescimento inicial, pela demanda reprimida, e depois isso se estabiliza e há uma diminuição subsequente. Isso porque as mulheres que passaram por um aborto já saem dos sistemas de saúde com um método contraceptivo adequado, escolhido a partir das informações que recebeu nessas instituições", afirmou Rosângela Dualib.

Segundo ela, esses dados vão contra discurso propagado recentemente no Brasil, que tende a ver a interrupção voluntária da gravidez como uma forma de prevenção, e não de remediar uma situação indesejada. "Nenhuma mulher passa incólume física e psicologicamente por uma experiência dessas. Dizer que as mulheres vão eleger isso como método contraceptivo é uma falácia. A taxa tende a diminuir", completou.

Nos cálculos do SUS (Sistema Único de Saúde), cerca de um milhão de abortos inseguros são realizados anualmente no Brasil; uma em cada cinco mulheres já teria recorrido à prática ao menos uma vez em sua vida, sendo a maioria delas casada, com mais de 18 anos e identificada com alguma religião. Uma realidade que bate à porta de todos.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Contra o machismo da direita, um voto para a igualdade

O candidato à presidência José Serra, do PSDB, expressou em sua declaração, nesta quinta-feira, o machismo que orienta não apenas sua campanha, mas sua atuação política no último período: “Se você é uma menina bonita, tem que conseguir 15 votos. Pegue a lista de pretendentes e mande um e-mail. Fale que quem votar em mim tem mais chance com você”.

Repudiamos todas as práticas que pretendem obter qualquer tipo de lucro a partir do uso do corpo das mulheres, seja no turismo sexual, na indústria do entretenimento ou no tráfico de mulheres para a exploração sexual que movimenta pelo menos 58 bilhões de dólares anuais. O conteúdo explícito da declaração de Serra, ao incentivar que as meninas se ofereçam em troca de votos para este candidato misógino, incentiva estas práticas.

A misoginia do governador faz coro com uma sociedade que trata as mulheres como objeto na publicidade, nos meios de comunicação e nas ruas. Repudiamos o conteúdo desta declaração, que considera as mulheres a partir de sua aparência, tendo como referência um padrão de beleza que faz com que milhares de jovens desenvolvam doenças como anorexia e bulimia. A imposição de um modelo ideal e inatingível de beleza expõe as mulheres às promessas da indústria dos cosméticos, remédios e cirurgias plásticas que destroem a autoestima das mulheres.

Em uma sociedade em que a cada dia 10 mulheres são assassinadas por homens, o candidato reforça uma visão conservadora e machista de que as mulheres e seus corpos estão disponíveis para o consumo por meio da venda direta ou indireta. Nesta sociedade em que, em apenas 7 meses, mais de 340 mil mulheres denunciaram ser vítimas de violência sexista, o candidato se recusou durante meses a assinar o Pacto de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, enquanto governador de São Paulo. Após a assinatura, fruto de intensa pressão do movimento de mulheres organizado em SP, o então governador não investiu na implementação deste Pacto. Enquanto governador, José Serra foi, portanto, conivente com a violência sofrida a cada 15 segundos por uma mulher brasileira. Enquanto candidato à presidência, José Serra é a expressão do que há de mais machista e reacionário com relação às mulheres. Não por acaso, o candidato conta com apoio de dirigentes da TFP, agrupamento que se situa entra os mais conservadores do Brasil.

A atuação política e as declarações do candidato com relação às mulheres é uma agressão a todas nós que, nos dias de hoje, seguimos a luta de milhares de mulheres que nos antecederam reivindicando o direito a sermos respeitadas como cidadãs, portadoras de razão e direitos.
Ao contrário do que o candidato José Serra pensa, nós mulheres temos capacidade de refletir e decidir sobre nossas vidas e sobre nosso voto. Convencemos homens e mulheres a partir de nossos argumentos, e não do oferecimento de nossos corpos.

Repudiamos o preconceito e a discriminação expressados pelo candidato José Serra.

Estamos convencidas de que as mulheres podem ocupar os postos de trabalho em condições de igualdade com os homens, inclusive participando da política. Podemos (e queremos) ser vereadoras, prefeitas, deputadas, senadoras, governadoras e presidentas, e não apenas utilizar de nossos corpos para obter votos para os homens, como propõe o candidato José Serra.

Decidimos votar na candidata Dilma Roussef, que é parte de um projeto histórico que incorpora a liberdade e igualdade das mulheres como princípios, e estamos conscientes de que os desafios para alcançar estes objetivos são muitos e não se encerram em uma eleição.

Estamos ao lado da candidata que foi fundamental na condução do governo Lula, que ampliou a uma escala nunca antes conhecida o reconhecimento das mulheres como cidadãs. Reconhecemos os avanços referentes ao direito à documentação da mulher trabalhadora rural, que emitiu mais de um milhão e duzentos mil documentos civis e trabalhistas para as mulheres rurais, garantindo-lhes a possibilidade de acessar as políticas públicas e a efetivação de seus direitos, como a titulação conjunta, permitindo que se tornassem coproprietárias da terra em que trabalham, e não mais apenas dependentes dos maridos, chefes de família. Reconhecemos as iniciativas que iniciaram um enfrentamento articulado e concreto à violência sexista, a partir da elaboração e aprovação da Lei Maria da Penha e da implementação do Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher.

Estamos ao lado da candidata que defende em sua prática política e em seu programa de governo a soberania de nosso país e a integração solidária com os países vizinhos na América Latina.

Estamos ao lado da candidata que propõe a criação de 6 mil creches públicas, condição fundamental para que as mulheres possam exercer seu direito a um emprego com salário e condições dignas.

Estamos ao lado da mulher que lutou e luta pela liberdade e pela democracia, e estamos convencidas de que a efetivação da democracia para todos os brasileiros e todas as brasileiras exige a garantia da autonomia e autodeterminação das mulheres.

Estamos em marcha até que todas as mulheres sejam livres!

Por Tica Moreno, Bruna Provazi (Marcha Mundial das Mulheres) e Fabíola Paulino (Diretora de Mulheres da UNE)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Sobre o SWU

É com grande indignação que escrevo esse texto, porém já era claro pra mim que não seria diferente. O SWU é um evento com falsas ideologias. Não há como não dizer a verdade depois do que foi visto por lá. É o novo e famoso “marketing verde”.
Logo na entrada já é possível avistar os patrocinadores do evento: Coca-Cola e Nestlé. Caminhando mais um pouco é possível ver que a energia usada no evento é elétrica, lógicamente havia dinheiro suficiente para colocarem placas solares, pelo menos mostrarem formas de energias renováveis. O lixo era todo dividido para a reciclagem... era o MÍNIMO que eles poderiam fazer. A alimentação era baseada na carne, que faz parte e fomenta a industria da insustentabilidade já que é um dos ciclos que mais contribuem para o aquecimento global no Brasil, 60% do nosso CO2 provém das queimadas e quase todas tem como objetivo produzir pastos, 20% do gás metano é produzido pela flatulência dos bois. Dentro do evento acontecia o Fórum Global de Sustentabilidade, o qual ocorria entre 12 e 14 hs, 2 horas por dia apenas. O que foi dito por lá é que grandes discussões aconteceram, como: Inclusão de Minorias em "Mulheres que têm feito a diferença", o que é muito interessante, debates sobre reciclagem, falas sobre relações interpessoais para criar formas de ações a favor da sustentabilidade. Positivo. Devo minha sincera admiração às Organizações que, ao meu ver fizeram a diferença: 350 (www.350.org), Greenpeace, Ecogreens (www.ecogreens.com.br) e Matilha Cultural (www.matilhacultural.com.br).
Nós do Teatro Mágico apoiamos a luta pelo Meio Ambiente, portanto articulamos um Ato no nosso show. Soltamos um banner dizendo: 10/10/10 – TM PELO CLIMA e jogamos duas bolas infláveis no público representando o planeta e dissemos: O planeta está na mão de vocês! Fernando usava uma camiseta do MST e salientou a importância da reforma agrária e da agricultura familiar para o desenvolvimento sustentável do nosso país. O palco é nosso local de militância, não podíamos deixar de mostrar nossa luta em um evento como esse.
O ápice da mentira descarada do SWU foi quando falaram para a multidão gritar, pois mediriam os Dbs e quanto mais alto as pessoas gritassem, mais a Nestlé plantaria árvores. UM ABSURDO, vocês sabem o quanto a Nestlé fomenta a indústria da Devastação florestal? Já viram o que eles fazem na Indonésia? Pois então assistam o Documentário Green, que mostra o verdade dessa empresa: clique aqui para ver
Um evento elitizado por conta do preço do ingresso e muito, muito desorganizado, movido pelo capital e não pela bandeira da sutentabilidade. Uma grande mentira.
E o nome: Start with you, temos que levar ao pé da letra, porque tenho a plena certeza de que o que eles quiseram dizer com: Começa com você, é isso mesmo... com você e não com eles.

Gabi Veiga, publicado no Habitos e Habitat.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Eu aborto, Tu abortas, nada nos calará!

Companheiras da FEUU (Federación de Estudiantes Universitarios del Uruguay) publicaram no último 28 de setembro no site da FEUU, Dia Latino-Americano de Luta pela Descriminalizaçao do Aborto, 6 histórias que abordam a realidade do aborto no Uruguai. 


O Estado uruguaio orienta as mulheres de como realizar o aborto de maneira segura. Entretanto, não viabiliza os métodos para realização do mesmo, em condições insalubres e sem nenhuma orientação médica milhares de mulheres, assim como no Brasil, morrem. Confira as histórias que evidencia que são as mulheres pobres que mais sofrem com essa terrível situação de ilegalidade.


Denunciar:
Eu aborto, 
Tu abortas, nada nós calará!
por Comissão Direitos Humanos [Aecco] da FEUU, terça, 28 de setembro de 2010 às 17:15


JUANA TIENE 20 ANOS, é mãe de filhos de dois e três anos. O maior vive com ela e o mais velho com sua avó. Ambas crianças sofrem de paralisia cerebral. Ela não tem trabalho nem outros recursos; sua pobreza é extrema. Foi a uma policlínica onde recebeu orientação sobre como interromper a gravidez sem risco e isso foi tudo. Por isso, depois da consulta, peregrinou pelas organizações sociais de seu bairro: abraçada a seu filho doente pedia ajuda para abortar. Depois de quatro semanas uma assistente social se comoveu e organizou uma coleta que permitiu a Juana obtivesse o misoprostol. Juana abortou na décima segunda semana de gestação.


MARÍA TIENE 32 ANOS, para sua família era impossível sustentar outro filho no momento que ficou grávida. Com relativa facilidade obteve informações sobre como abortar sem risco, mas para obter o misoprostol necessitou chegar a uma oculta rede solidária. Desde a sétima até a décima terceira semana realizou intervenções com o medicamento. Foram dez madrugadas de solidão, buscando qualquer sinal de seu corpo. Foram dez madrugadas de clandestinidade médica e omissão de assistência.


ROMINA TIENE 18 ANOS, Sua mãe e suas irmãs trabalham para que ela estude. Na casa estão orgulhosas de que ela vai bem no Liceu. Romina ficou grávida e o medo lhe roubou a palavra. Não pôde dizer nada; não pôde comer mais e chegou a cometer uma tentativa de suicídio, motivo pelo qual foi internada. Passados três dias lhe deram alta, e de volta na sua casa compartilhou seu drama. As irmãs se mobilizaram; contra relógio fizeram a consulta e conseguiram o medicamento. Romina tomou os comprimidos e esperou: primeiro chegou a dor, depois os vômitos, a diarréia e a febre; no final foi o alívio.


CRISTINA TIENE 44 ANOS, filhos grandes e uma neta. Uma nova gravidez a surpreendeu ela e o marido. Depois pensarem muito sobre o assunto, decidiram não continuá-la. Foram à casa de uma vizinha que entregava comprimidos no bairro, que lhe indicou aonde ir. No dia da consulta no Hospital Pereira Rossell uma mulher a abordou na sala de espera e lhe ofereceu o misoprostol. Cobrava três mil pesos por quatro comprimidos; trocaram telefones. Cristina, depois de receber do Hospital mais nada que informação conseguiu um empréstimo, marcou um encontro com a moça e tomou os comprimidos.


MARIANA TIENE 19 ANOS, está decidida a não continuar a gravidez que a surpreendeu. Ela e seu namorado organizam uma reunião com as famílias de ambos para explicar a situação e pedir ajuda. Vivem em um dos departamentos do interior onde nenhum serviço de saúde brinda orientação. As famílias chamam  diferentes contatos até que consigam alguém que lhes oriente. Então, Mariana e seu pai viajam para Montevidéu onde fizeram uma consulta médica e conseguiram o misoprostol. De volta, seguindo as instruções coloca o medicamento. Sem dor, sem sintoma algum, Mariana sangra por três dias. Ao quarto dia uma dor intensa põe em alerta à família. Imediatamente acodem à emergência onde fica internada por complicações até que a consideram fora de perigo. “Até agora não me tinha dado conta até onde se equivocou Tabaré com o veto”, repete o pai mais de uma vez.

ALICIA TIENE 20 ANOS, seu companheiro  tem 21 anos e seu bebê um ano. Vivem todos na casa de sua sogra em um bairro de trabalhadores pobres perto de Montevidéu. Quando soube que estava novamente  grávida consultou seu companheiro, juntos decidiram que naquele  momento seria uma irresponsabilidade colocar outro filho no seu mundo. Foram a uma consulta de orientação no Hospital Pereira Rossell e voltaram sem saber por onde começar a resolver na prática. Passaram muitas semanas antes que pudessem conseguir o misoprostol. Não falaram de sua situação nem a decisão com ninguém. Quando conseguiram os comprimidos Alicia os tomou como lhe indicaram fazê-lo, mas sozinha no banho para que sua sogra não a visse, e quando seu companheiro estava trabalhando. Como estava na décima sétima semana de gestação a evacuação foi rápida, violenta e dolorosa em mais de um sentido. A sogra ouviu as queixas, viu o sangue no chão e chamou o plantão de emergência (911) para que a socorressem. Ia chegar mais rápido que a assistência médica. O Estado uruguaio assessorou a Alicia sobre como abortar sem risco, e o mesmo Estado uruguaio a deteve, submetendo à justiça penal por fazê-lo.



Jéssika Martins Ribeiro - militante da Marcha Mundial das Mulheres e vice-presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE|SP)

terça-feira, 28 de setembro de 2010

FormAÇÃO FEMINISTA: LEGALIZAÇÃO DO ABORTO


Neste sábado (02.10) as jovens militantes da Marcha Mundial das Mulheres realizam na SOF (R. Ministro Costa e Silva, 36 - Pinheiros/SP) uma Roda de Conversa sobre o tema da legalização do aborto.

A atividade acontece em a alusão ao dia 28 de Setembro - Dia Latino-americano e caribenho pela legalização do aborto, data em que diversas companheiras feministas se reúnem-se em toda a América Latinha para dar visibilidade a mais uma das lutas das mulheres em busca de nossos direitos.

Então, a Roda acontece nesse sábado às 15 horas produziremos coletivamente um fanzine e realizaremos intervenção urbana pelas ruas de São Paulo.

Eu aborto
Tu abortas
Somos todas clandestinas!

Em defesa da vida das mulheres! Pela legalização do aborto!

Os “anti-direitos” ou “pró-morte das mulheres” tem várias frentes de atuação para impedir a legalização do aborto, fazer retroceder os direitos já conquistados pelas mulheres e aumentar a criminalização daquelas que praticaram aborto. Uma delas é a atuação parlamentar coordenada. Eles criam Frentes Parlamentares anti-direitos em nível nacional, nos estados e municípios. No Congresso Nacional, articularam a proposição da CPI do aborto, o Estatuto do Nascituro e mais cerca de 50 projetos de lei orientados para cercear os direitos das mulheres.
Eles se auto-intitulam pró-vida. Nessas eleições, assinaram um termo de compromisso com a defesa da vida desde a concepção. Para eles, importa mais uma vida abstrata que a vida concreta de milhares de mulheres que recorrem ao aborto em situações de insegurança. Até agora tem 55 candidatos/as a deputado/a federal nesta lista, vários/as para estadual, um candidato a governador (o Bassuma, do PV da Bahia), e um candidato a vice-presidente, que não por acaso é o Índio da Costa, do DEM, candidato a vice do Serra – que não vai ganhar de jeito nenhum!

Não vote neles!…

E venha pras ruas com a gente!

O nosso lado, que defende a vida e autonomia das mulheres, também se articula. Desde 2008 existe uma Frente Nacional contra a Criminalização das Mulheres e pela Legalização do Aborto. Participam desta frente mulheres e homens, parlamentares, movimentos de mulheres e movimentos sociais em geral, partidos políticos e quem mais quiser se somar. Neste dia 28 de setembro, a Frente apresenta a Plataforma para a legalização do aborto no Brasil.

Nas ruas, blogs e redes sociais, estamos em luta em defesa da vida e da autonomia das mulheres e pela legalização do aborto.

Leia também:
Dia 28 de setembro, no Maria Maria – Mulheres em Movimento
O aborto em 3 pílulas, no Trezentos.
Legalização do aborto, por Cynthia Semíramis
O aborto na história, por Denise Arcoverde
Confira, e participe, das ações da Marcha Mundial das Mulheres pela legalização do aborto, neste dia 28 de setembro e todos os dias, até que todas sejamos livres.

Por Tica Moreno, militante da MMM-SP

Filme sobre realidade do aborto na vida das mulheres é exibido hoje em Mossoró



O Cine Bairro, projeto do Centro Feminista 8 de Março em parceria com a Fundação José Augusto, exibe o documentário “O aborto dos outros” (2008), da paulista Carla Gallo, hoje, 28/09, na Praça Jornalista Jaime Hipólito (em frente ao Cafezal), às 19h.

Após a exibição do filme haverá um debate entre os/as participantes e uma intervenção teatral. Em seguida, ocorrerá a apresentação da banda de reggae mossoroense Kavah Roots, encerrando a atividade.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

28 de setembro – Dia de luta pela legalização do aborto





Na próxima terça-feira, dia 28 de setembro, diversos movimentos feministas reunidos na Frente Nacional contra a criminalização das mulheres e pela legalização do aborto realizarão atos públicos para marcar o Dia Latinoamericano e Caribenho de Luta Pela Legalização do Aborto. A data foi proposta em 1990 e desde 1993 são realizadas ações em toda a região. 

Em São Paulo, o ato acontecerá a partir das 16h na Praça do Patriarca, e contará com panfletagem, batucada feminista, exibição do filme, entre outras atividades. 

A Frente Nacional elaborou uma Plataforma que contém diversas propostas para a efetivação dos direitos reprodutivos e da autodeterminação das mulheres, entre eles a legalização do aborto, a garantia de realização do procedimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e a descriminalização das mulheres que optam por realizá-lo. 

Criada em 2008, a Frente reúne diversos movimentos feministas e mistos, que se articulam para lutar pela legalização do aborto. A avaliação geral é de que nossa sociedade enfrenta atualmente uma ofensiva dos setores conservadores, que têm se organizado em diversas esferas – igrejas, Parlamento, ONGs – para tentar impedir que esse debate seja feito de forma clara e sem preconceitos. 

Sônia Coelho, integrante da Marcha Mundial das Mulheres, acredita que essa ofensiva tem inclusive pautado os debates eleitorais, já que os grupos anti-legalização do aborto não hesitam em atacar qualquer candidato ou candidata que se coloque ao lado dos direitos das mulheres. “Os debates aprofundados sobre a realidade das mulheres e as consequências da não legalização do aborto em sua saúde e suas vidas, que deveriam marcar o período eleitoral, simplesmente não estão sendo feitos”, afirma. 

Neste sentido, a Frente espera alcançar o objetivo de pautar sua Plataforma com a sociedade no dia 28 de setembro. “Será também um momento importante de aglutinação de pessoas e movimentos que ainda não fazem parte da Frente, mas debatem o tema e se posicionam a favor da legalização do aborto e da vida das mulheres”, coloca Sônia. 

Confira  Plataforma pela Legalização do Aborto construída pela Frente Nacional contra a criminalização das mulheres e pela legalização do aborto.

domingo, 26 de setembro de 2010

Feminismo 2.0 contra o machismo neandertal

Não é novidade nenhuma pra nós feministas que as mulheres são, cotidianamente, vítimas de opressão. Também não é novidade pra nós que a opressão é transversal: tá na repressão que sofremos de pais, namorados ou maridos, no assédio do chefe, do pedreiro da esquina ou do trocador de ônibus, nas imposições das revistas femininas e nas estereotipias dos meios de comunicação em geral. Talvez por isso eu não tenha me espantado muito quando uma amiga me enviou, por e-mail, o texto do machistão nojento, professor da FAAP e especialista em conservadorismo, religião e mau gosto, Luiz Felipe Pondé – a quem prefiro chamar, carinhosamente, de “Luizinho”. 

Um textinho medíocre, uma vomitadela de clichês tipo cantada de tiozinho bêbado em final da balada. Algo mesmo como “as feministas são mal-amadas, mal-comidas e mal-depiladas – aliás, nem se depilam (que horror!)”. Preguiça, né, gente? Entretanto, como, infelizmente, o doutor Luizinho conseguiu espaço na Folha de São Paulo (só pra constar: caguei pra Folha); como, pra nossa tristeza ainda maior, algumas dezenas de pessoas certamente leram esse monte de besteira; e como, obviamente, não temos direito de resposta nesse jornaleco, a verve feminista nos colocou, imediatamente, em posição de esclarecer um pouco as coisas pr@s leitores do Luizinho. E é daí que esse texto deveria começar, na verdade.


No debate de abertura do Ladyfest Brasil desse ano, entitulado Feminismo Além do Bem e do Mal: aliança feminista contra o machismo blindado, Vange Leonel falava algo sobre como o machismo é de tal forma estruturado na sociedade, que é como se tivesse uma blindagem. Sabe o senso comum sobre a amizade masculina e a rivalidade feminina? Meninos compartilham façanhas sexuais, chamam-se uns aos outros de viado e filho da puta, e jogam bola aos finais de semana. Meninas duelam pelo bonitão do colégio, invejam a roupa e o cabelo umas das outras e falam mal das outras pelas costas. Tudo socialmente aceito e naturalizado: normal.
É sobretudo contra essa couraça machista, de tal forma construída e consolidada, ao longo dos anos, pelos pais e avós dos Luizinhos, que temos que lutar, diariamente. E é por essas e outras que temos que abandonar tais naturalismos, tão velhos e obsoletos quanto o texto de nosso amigo – e quanto a ideia de que vivemos em eterna disputa pelo pênis perfeito – em prol dessa coisa maior a que chamamos auto-organização. 

Na tarde dessa segunda-feira ensolarada, bastou uma rápida troca de mensagens eletrônicas para que a rede feminista fosse acionada. Do trabalho, do estágio, da faculdade e de casa, rapidamente levantamos a ficha do doutô e nos pusemos a lutar com as palavras, contemplando a blogosfera com lições de história e tons de poesia. Também mandamos e-mails pro Luizinho e pro jornalzinho, claro. Irônicas, irritadas ou arrogantes, publicamos, tuitamos e retuitamos nossa própria versão de nossas próprias vidas. Felizmente, fazemos parte da parcela da população que tem acesso às teclas e às letras. Afora nossa evidente inclusão sócio-digital, sobressai, EM CAIXA ALTA, a vantagem de estarmos organizadas nessa rede feminista de solidariedade e ativismo político. 

Muitas vezes, em minha vida, quis encontrar amigas para compartilhar a opressão isolada que eu sempre senti e que, até então, não compreendia como sendo coletiva: a tal da opressão de gênero que atinge a todas as mulheres, em maior ou menor grau. Algum tempo depois, encontrei companheiras com as quais pude pensar alto, aliviada por saber-me não mais sozinha e por compreender que meu sentimentos não eram efeito de puro delírio ou de álcool puro. Mas, cada vez mais, estou convencida de que não bastam desabafos em mesa de bar ou felizes histórias de self-made women que superaram desafios e, de alguma forma incrível, tornaram-se ricas, independentes(?) e casaram-se com Luís Fernando de la Vega

Troco a picanha de domingo pelo ativismo cotidiano e organizado, não pelo bife de soja diário do restaurante indie da moda, porque o sistema capitalista-patriarcal não admite “soluções individuais para problemas coletivos”. Como diz o Team Dresch: Freedom is freedom: it’s for all or it’s all for nothing.




 
Seguem bons textos publicados em resposta ao nosso amigo doutô:

Sobre pelos e nojos
, em Roupas no Varal
Resposta a Pondé – A obsolência das Agonias Contemporâneas, em Ofensiva contra a Mercantilização
A clara agonia de um homem senil, em Ofensiva contra a Mercantilização
E se eu não quiser me depilar, algum problema?, em Viva Mulher
As mulheres tem motivos para lutar, em Blog Muié

Fica a dica de um protesto bem-humorado também:
http://neopelucias.wordpress.com/

É por essas e outras que agradeço ao Luizinho pela gentileza. Como já disse, algumas vezes, essa semana: se cada manifestação pública de machismo gerar tanta produção boa quanto as que li nesses últimos dias, vou tentar parar de criticar a Folha, o CQC, o Pânico, os filmes hollywoodianos, as revistas femininas, os meios de comunicação de massa, o meu colega de trabalho, o seu vizinho, os nossos pais…



Por: Bruna Provazi

ABORTE A CLANDESTINIDADE

MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES EM CAMPINA GRANDE PARAÍBA
ATIVIDADE SOBRE A LEGALIZAÇÃO E DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO

 Haissa Vitoriano
Marília Gabriela

No dia 22 de setembro de 2010, tivemos a primeira atividade, voltada para a sociedade, do núcleo da Marcha Mundial das Mulheres em Campina Grande – PB, cuja pauta trazia, como centro, a discussão a cerca da descriminalização e legalização do aborto. Para tanto, foi realizado um debate na Universidade Estadual da Paraíba, no curso de Serviço  Social, trazendo como palestrantes a Prof. ª Drª. Idalina Santiago e a companheira da MMM de João Pessoa- PB, Socorro Almeida.
A formação da MMM em Campina grande é resultado de um agradável encontro de mulheres que atuam em coletivos feministas, como o Beth Margaridas e o Flor e Flor, além de algumas meninas independentes e outras vinculadas à Consulta Popular. O contato foi mantido informalmente, a priori, até que foi decidido, no dia 18 de setembro – segundo encontro –, numa reunião mais direcionada, a identificação dessas mulheres como Marcha Mundial das Mulheres, tendo por objetivo traçar os encaminhamentos para a agenda do mês de setembro.
Atendendo às expectativas traçadas no dia 18, o debate sobre o aborto foi realizado com sucesso, gerando reflexão e crítica a cerca das políticas públicas regentes hoje no Estado. O encontro contou com uma plateia bem diversificada, contemplando de líderes religiosos à agnósticos e visões das mais diversas, fato que corroborou para uma elevação do nível da discussão, contemplando todas as instâncias que informam o processo sobre a legalização do aborto.
O resultado do debate foi muito positivo, gerando comentários favoráveis, que, por sua vez, já vem repercutindo, principalmente no meio acadêmico. Ao final do encontro, novamente foi feito uma reunião com as mulheres da Marcha para acertar a intervenção do dia 28, na tentativa de fazer um ato em conjunto com as meninas da Marcha em JP. A intenção de todas é de que haja um diálogo constante dentro do estado, de modo que exista um acompanhamento presencial mútuo nas duas cidades.
É, com esse simples informativo, que anunciamos com felicidade à Marcha em todos os estados brasileiros sobre o comprometimento e dedicação com que as mulheres campinenses têm vestido a couraça dessa luta.