*Por Rafaela Rodrigues
É um domingo e as 7:40h da madrugada todas recebem uma mensagem em seus celulares para despertar “Mulherada, vamos acordar marcha das vadias daqui a pouco, 8h todas lá!”. É o toque final para despertar. O dia começa com uma notícia boa. Estamos na capa de um dos maiores jornais do Pará. Responsáveis pela batucada, chegam incrivelmente sincronizadas, vão encher seus carros de latas, bumbos, perucas, baquetas, fita isolante para caso alguma baqueta quebre, uma fita a mais caso arrebente algum bumbo. Chegada no local marcado, não tem ninguém ainda :( . Opa, na verdade tem sim, elas estão vindo. 2,3,5,10,20,25,35,40,50,60 mulheres, jovens e adultas, crianças e homens. “Bora se preparar gente?”. Batons vermelhos passando de boca em boca. Algumas de meias arrastão. Outras de blusas e saias curtas. Tudo muito diferente para quem está indo para uma passeata. Mas a Marcha das Vadias é assim, diferente. Começa o ensaio final. Com direito a paradinha e tudo. Agora é a hora, quem aprendeu todas as letras e batuques aprendeu, quem não aprendeu aprende daqui a pouco. Atravessamos a rua em direção ao ponto de concentração ao som “ô abre alas”. Que travessia incrível. 3º Ação Internacional veio na cabeça na hora. São muitas batuqueiras. Essa é Marcha das Vadias em Belém. Cartazes com os dizeres “Não sou puta. Não sou santa. Sou livre”. “Se ser vadia é ser livre, então sou vadia com orgulho”. “Meu corpo, minhas escolhas”. Manifestações artísticas. Mulheres nuas. Outras só de sutiã. Simplesmente inacreditável. Isso é Belém, não é São Paulo, não é Belo Horizonte, não! Isso é Belém. A marcha percorre seu caminho. Não para de chegar gente. Na Praça da República todos e todas observam com um ar de espanto. Mas um sorriso tímido aparece no rosto de vários. Os adesivos “Isso não é sobre sexo, é sobre violência” são entregues para a população ainda um pouco confusa. Todo mundo entendeu o recado? Com certeza não. Mas algo ficou. A pulga na orelha ficou. Essa é uma das várias vezes que as mulheres foram as ruas e ainda irão para dizer: Essa é a minha vida, esse é o meu corpo, que não serve para violentar, estuprar, utilizar, vender, nem ser dono. O corpo é meu e as regras são minhas. A Marcha das Vadias é isso, é dizer de todas as formas algo que todo mundo deveria saber. Eu sou mulher e sou livre. E Agora, mais do que nunca é a vez das mulheres.
*Rafaela Rodrigues é formada em Direito e militante da Marcha Mundial das Mulheres
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