Acabamos de eleger a primeira mulher para o cargo de presidente do Brasil, Dilma Rousseff. A primeira coisa que me vem a cabeça quando penso nisso é no avanço dessa conquista e me emociono ao lembrar da frase muito usada por nós feministas “Lugar de mulher é na política”. Mas minha alegria dura pouco, basta eu entrar em algum jornaleco na internet ou blog de humor, ou mesmo sentar em uma mesa de bar como alguns homens nada 'esclarecidos' que meu momento de alegria passa e me vem um sentimento de indignação. E eu me coloco a refletir acerca de um trecho de Simone de Beauvoir em “O Segundo Sexo”, meu livro de cabeceira, que diz que enquanto as mulheres não se verem enquanto sujeitos, não tiverem um sentimento de nós enquanto mesmo, a relação de opressão não mudará e elas serão sempre o outro. Pois não existe um nós mulher como ocorre em outras relações de opressão, salvo algumas raras organizações feministas, as mulheres nunca conquistaram nada, a não ser aquilo que seus opressores quiseram dar a elas, assinala Beauvoir.
Esse trecho me angustia, me da náusea, pânico, desespero... até quando vai ser assim? Até quando essa sociedade machista vai nos agredir, vai nos impor comportamentos, esteriótipos. Será que agora que temos uma mulher na presidência conquistaremos respeito? Tenho medo da resposta, essa campanha suja e maldosa, incentivou a falta de respeito até pela presidenta, me corria ao ver as campanhas da oposição dizendo que ela não tinha história, não tinha potencial nem competência, tinha uma que a porta de um estabelecimento fechava e um homem dizia “a única vez que ela não teve um chefe teve que baixar as portas”, ou algo parecido com isso, nojo.
Depois de uma charge no inicio da campanha ter relacionado a atual presidenta eleita a uma garota de programa, desrespeitando não só a candidata como a todas as mulheres, o debate preconceituoso e agressivo em torno da legalização do aborto e da união civil de pessoas do mesmo sexo, e no segundo turno o candidato pelo PSDB ter pedido as “mineiras bonitas” que consigam voto para ele, entre outras coisas machistas, absurdas e preconceituosas que se ouvia por ai. Deparei-me ontem com algo que considero absurdo, piadas abusivas, desrespeitosas e machistas, em uma página de um “humorista” que descreve seu humor como “de prima pra deixar a vida masculina ainda melhor” que medo do que vem abaixo. O cara “super engraçado” enumera as 10 primeiras medidas que serão tomadas pela primeira presidenta mulher da história do Brasil, e faz piadas com os planos de governo relacionando com esteriótipos atribuídos a mulheres. Com relação a saúde da mulher por exemplo, o projeto a ser implantado é implante de botox e silicone (HORRIVEL!!!!!!), o PAC, vira programa de aceleração do casamento (TOSCO!!!), dentre outras coisas absurdas. A postagem ridícula, veio seguida de vários comentários que apoiavam o autor e agrediam aqueles que deixaram seu comentário criticando a piada. Chamando homens que se posicionou contra de “bichona” e as mulheres de feministas-sem-causa, sem senso de humor, chatas, feias e encalhadas, um deles inclusive teve a audácia de perguntar “Quem será a primeira dama que vai morar com ela no Palácio Alvorada?”. Será mesmo que são as feministas que não tem senso de humor, ou as pessoas que perderam completamente a noção de respeito? Só pra constar, o meu mal humor eu costumo chamar de senso crítico. Não tenho nada contra o humor, só não rio de piadas sem graça.
Me retorci resto do dia inconformada com tamanha agressão, à presidenta, às mulheres, e às feministas. Até quando nós mulheres vamos ter que carregar esses estigmas? Ouvir que política é coisa de homem, que a mulher tem ser meiga, delicada e sensível? Até quando fatores biológicos vão ser usados para justificar a diferença no plano político e no dos direitos? Que as características femininas específicas (absurdo!!!) a impedem de participar do mundo público, tendo esta como função a família e os filhos, que mulher que não tem filho não se realiza? (essa me dói).
Mas em uma campanha que se fez como base o machismo, o preconceito e a violência teve como paradoxo duas mulheres candidatas e uma delas eleita para ocupar o cargo mais alto do poder executivo. Fato este que é sim um avanço importante, e estou orgulhosa e feliz tanto por ter participado como principalmente contribuído nesse processo. E fica a mensagem, não basta elegermos mulheres, elas tem que nos representar, e Dilma me representa, é uma mulher que ao contrario do que dizem por aí, traz na bagagem toda uma história de luta e de coragem. E é essa sua coragem que vai servir de exemplo para as mulheres, para esquerda que acredita da democracia e no socialismo, e nos incentiva a continuar lutando, porque o caminho ainda é longo e dolorido, e temos muito o que conquistar, conquista que mesmo se cedida pela cultura patriarcal, será um premio da vitória da luta das mulheres, porque agora, nós também fazemos a história.
Carol Radd, diretora de mulheres da União Estadual de Estudantes de Minas Gerais, militante da Kizomba e Marcha Mundial das Mulheres
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