No último dia 27 de outubro, jornais de todo o estado de São Paulo publicaram um chocante acontecimento ocorrido durante o Interunesp (leia a matéria aqui). Cerca de 50 estudantes encabeçaram mais uma forte expressão do machismo chamado de “rodeio de gordas”. O rodeio consistia basicamente em os meninos se aproximarem das meninas, de preferência, as acima do peso, como se fossem paquerá-las, depois as agarravam, montados em cima delas ficando o máximo de tempo possível, exatamente como os peões fazem nas arenas.
Os meios de comunicação e a sociedade trataram o caso como bullying. Entretanto, ao contrário da maneira como foi tratado, o “Rodeio de Gordas” é uma forte expressão do machismo ainda presente na sociedade em que vivemos. Pode ser considerado bullying, mas é preciso caracterizar este bullying como machista.
Casos como esses só ocorrem graças à ditadura da beleza imposta pela sociedade capitalista e machista e reforçado pelos meios de comunicação. O que aconteceu na UNESP representa o que vemos em diversos espaços públicos: o tempo todo as mulheres são julgadas de acordo com sua aparência estética. Parece que para ser valorizada como profissional, a mulher deve, primeiro, corresponder a um ideal estético que se refere a um modelo de feminilidade que nos coloca em uma situação de subordinação com relação aos homens na sociedade.
Nós, mulheres estamos na universidade porque muitas que vieram antes de nós reivindicaram o direito das mulheres à educação. As mulheres representam hoje 55% dos estudantes universitários. Ainda há desafios a ser superados, no sentido de romper preconceitos e discriminações sociais que concentram as mulheres em áreas do saber relacionadas ao que é tradicionalmente considerado feminino, como alguns cursos de humanas e saúde (pedagogia, enfermagem, etc). Mas o “rodeio das gordas” nos remete a outro desafio colocado para a presença das estudantes na universidade: o reconhecimento de que temos direito de ocupar esse espaço, e que devemos ser respeitadas como sujeitos que estão em pé de igualdade com os homens no que se refere à produção de conhecimento, por exemplo. Ao contrário do que querem muitos, não somos apenas corpos que enfeitam a universidade enquanto os homens estudam. Somos seres pensantes, construímos o conhecimento, a economia, a cultura e a sociedade.
O machismo não é criado pela universidade, mas esta que deveria ter o papel de transformar as relações de desigualdade que estruturam a sociedade, está na verdade reproduzindo a opressão. Infelizmente, o Rodeio das gordas não foi um fato isolado, tampouco é uma brincadeira, como os estudantes afirmaram. Insere-se na mesma leva de manifestações machistas que a agressão à Geisy Arruda na Uniban, à rifa de mulheres em um Encontro de Estudantes de História, aos vários exemplos de festas e calouradas extremamente sexistas, seja no cartaz, seja no trote. Nós, mulheres organizanadas no movimento estudantil e na Marcha Mundial das Mulheres na luta pelo fim do machismo nos solidarizamos com todas as estudantes e exigimos punição a todos os envolvidos nesse caso e em todos os outros que não repercutem na mídia.
Jéssika Martins Ribeiro é vice-presidente da União Estadual dos Estudantes (UEESP) e militante da Marcha Mundial das Mulheres
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