quinta-feira, 31 de julho de 2008

Legalizar o Aborto! Pelo Direito à Vida das Mulheres

ANALINE SPECHT e CLÁUDIA PRATES

O silêncio que existe sobre o aborto esconde a verdadeira realidade. Mais mulheres do que se pode imaginar já tiveram que recorrer ao aborto diante de uma gravidez indesejada. Todas e todos conhecemos casos de prática do aborto motivados por várias razões como estupro, condição de vida, condição econômica, idade, saúde, relação com o companheiro entre outros. O aborto pode ser involuntário quando ocorre de forma espontânea, sem que a mulher queira, ou ocorre por sua decisão diante de uma gravidez indesejada.

Quando as mulheres precisam fazer aborto correm dois riscos: de serem consideradas criminosas e por isso é feito clandestinamente. E o segundo é o risco de morte e seqüelas que podem ocorrer, uma vez que a maioria dos abortos é realizada de forma insegura.

Esta situação demonstra que não é reconhecido o direito das mulheres de decidirem sobre suas vidas, seus corpos, sua sexualidade. A obrigação das mulheres é cumprir seus papéis de mães e esposas, tendo como função e espaço de realização pessoal a estrutura da família. Estrutura esta que reproduz e mantém a subordinação e dependência da mulher, assegurando, desta forma, um reduto da supremacia do homem, como provedor e detentor do poder. Essa construção está ligada a lógica cristã ocidental que atribui à função social da mulher a geração e preservação da vida como mãe. Com base nesses pressupostos católicos, a CNBB lançou a Campanha da Fraternidade de 2008 – com o lema "Fraternidade e Defesa da Vida" reafirmando a condição da mulher acima descrita. Entre as várias formas de “defesa da vida” pautadas pela campanha está o aborto. A legalização do aborto é colocada como um ato de atentado à vida, como prática “imoral, cruel e trágica”, relegando a responsabilidade da maternidade e das relações sexuais somente às mulheres.

A Marcha Mundial das Mulheres, movimento de caráter feminista, defende e atua pelo direito à autodeterminação e autonomia das mulheres frente a todas as formas de opressão. O tema do aborto sempre foi discutido de maneira ampla, compreendendo a defesa da necessidade que todas tenham direito à informação e à anticoncepção. Mas também compreendendo que as relações de poder que existem no campo da sexualidade fazem com que, na maioria das vezes, as mulheres não possam decidir livremente. A criminalização do aborto condena milhões de mulheres a viver com culpa, vergonha e medo. Sentimentos estes construídos e legitimados pela ética cristã, com base no castigo e punição subjetivos que formam as matrizes do senso comum e da pressão social. O movimento feminista defende que as mulheres decidam sobre sua reprodução e sexualidade livres da intervenção dos homens, do Estado ou da Igreja. A garantia de liberdade e direito de decisão das mulheres sobre a maternidade quebrará um pilar fundamental de sua opressão. As mulheres têm o direito de definir como querem viver suas vidas: como casadas ou não, com ou sem filhos, lésbicas ou heterossexuais.

Nesse sentido, defendemos o Estado de direito laico baseado na igualdade e na liberdade individuais, permitindo que as mulheres tomem suas próprias decisões de acordo com suas vontades e princípios. Lutamos todos os dias pela ampliação de políticas públicas de saúde que atendam de forma integral as mulheres, com políticas que respeitem os direitos sexuais e os direitos reprodutivos com respeito ao direito de decisão autônoma sobre seu corpo.

Para a Marcha Mundial das Mulheres no Brasil o desafio é como colocar o protagonismo da luta pelo aborto na organização das mulheres e na articulação com outros movimentos, enfocando a autonomia de decisão, por um projeto de lei centrado no direito das mulheres decidirem sobre o aborto e na garantia de atendimento no serviço público. O aborto só será discriminalizado e legalizado se de fato construirmos um amplo movimento social que defenda essa bandeira e a conduza às devidas instâncias.

Reforçamos que a luta pela discriminalização e legalização do aborto só será vitoriosa quando houver uma forte radicalização na luta feminista que possibilite um avanço de conscientização e de ruptura com valores conservadores e opressores.

Analine Specht e Cláudia Prates integram a Marcha Mundial das Mulheres no RS e a Rede Economia e Feminismo. Contato: mmm_rs2004@yahoo.com.br
Disponível em: http://mmm-rs.blogspot.com/

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Movimentos sociais comemoram mais um fracasso da Rodada de Doha da OMC

Organizações e movimentos sociais do Brasil e do mundo inteiro comemoram mais um colapso das negociações para a conclusão da Rodada de Doha da OMC (Organização Mundial do Comércio). Desde que a OMC foi criada, no auge do neoliberalismo dos anos 90, estas organizações vêm questionando a validade das premissas da instituição e denunciando as graves conseqüências que a conclusão desta rodada poderia causar para os povos em diversas partes do mundo.

Essas conseqüências dizem respeito, principalmente, a liberalização do comércio de bens industriais e serviços por parte dos países do Sul, em troca da abertura de mercados no Norte para exportações agrícolas. Isto significaria a cristalização de um modelo em que os países em desenvolvimento continuariam como exportadores de commodities agrícolas – com uso intensivo de água e outros recursos naturais na sua produção, concentração fundiária e utilização de insumos químicos que resultam em um agravamento da crise sócio-ambiental -, enquanto os países desenvolvidos se manteriam como fornecedores de tecnologia e bens e serviços de alto valor agregado, bloqueando assim as perspectivas de desenvolvimento industrial e a geração de empregos de qualidade para homens e mulheres dos chamados países em desenvolvimento. E seria um golpe contra os direitos dos povos e a soberania dos países em relação à capacidade de formularem suas políticas públicas.

Ao longo da semana, cerca de trinta países tentaram sem sucesso chegar a uma fórmula que fosse capaz de acomodar os interesses em temas tão complexos como as políticas de agricultura, indústria e serviços. Mais uma vez o formato restrito e anti-democrático de tomada de decisões na OMC se revelou esgotado: dos 153 países-membro da OMC apenas pouco mais de trinta estavam presentes nas reuniões de Genebra e, na verdade, entre estes, apenas sete – Estados Unidos, União Européia, Brasil, Japão, Austrália, China e Índia – tentaram conduzir de fato o processo decisório enquanto os demais aguardavam em protesto as decisões na ante-sala.

O Brasil manteve a sua já conhecida posição, que prioriza a abertura dos mercados dos países do Norte para as exportações do agronegócio, concordando em troca em fazer importantes concessões nas áreas de redução de tarifas industriais e no setor de serviços. A insistência do Brasil em manter esta posição acabou tendo graves conseqüências políticas. Uma delas foi o estremecimento do G20, importante coalizão de países em desenvolvimento criada em 2003 durante uma reunião ministerial da OMC realizada em Cancun, quando o Brasil liderou uma posição de resistência destes países e com isso alterou a balança de poder e a correlação de forças na OMC. Desta vez, no entanto, o Brasil acabou esvaziando a sua liderança por ter se distanciado de preocupações e interesses de parceiros estratégicos da coalizão.

Este foi o caso da Argentina, que vinha liderando uma importante posição de resistência nas negociações de NAMA – a sigla em inglês para as tentativas de acordo sobre reduções nas tarifas de importação de produtos industriais que tanto interessam aos Estados Unidos e União Européia. A falta de compromisso do Brasil com os nossos vizinhos poderá ter repercussões políticas negativas nos processos de integração regional em curso na América do Sul. O Mercosul, por exemplo, possui uma Tarifa Externa Comum (TEC) que seria bastante prejudicada caso as propostas que estavam em curso nas negociações de Doha fossem aprovadas, tornando ainda mais difícil que nossa região pudesse estabelecer preferências comerciais internas ao bloco.

A estratégia negociadora brasileira também abalou as alianças do Brasil com Índia e China. Refletindo o peso econômico que o agronegócio exportador tem na balança comercial brasileira, o Brasil não deu a devida importância a temas importantes para estes países parceiros e para a agricultura familiar e camponesa. O tema das salvaguardas e outros mecanismos de defesa e promoção da agricultura que garante a segurança e soberania alimentar, no Brasil e no mundo, não foi priorizado pelos negociadores brasileiros, ao passo que se mostrou um tema central para estes parceiros chave do Brasil.

Neste momento, os movimentos sociais do mundo todo estão comemorando. Mais uma vez está provado que o modelo baseado na liberalização progressiva promovido pela OMC caducou. Agora é hora de pensar em alternativas a este sistema de comércio global e este debate deve se orientar pelos processos de integração regional e por novas instâncias globais voltadas para os interesses dos povos. Chegou o momento de construirmos um sistema de comércio verdadeiramente voltado para a justiça econômica, social e ambiental e não para os interesses das corporações transnacionais.

REBRIP – Rede Brasileira Pela Integração dos Povos

30 de julho de 2008

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Sexualidade, machismo, rap e funk
Texto escrito por Eloíza Alves, do coletivo Carla Maria, de São Paulo

No livro The Sadeian Woman – Un Exercise in Cultural History, Angela Carter demonstra como o sentido que se costuma dar às relações sexuais, considerado atemporal, está na verdade relacionado a um determinado momento histórico. Certas tentativas de definição do ato sexual se tornam uma espécie de metafísica, a qual analisa fenômenos sem considerar-se o contexto social em que estes ocorrem; como conseqüência, concepções historicamente determinadas são aceitas como naturais.

A definição de ato sexual a que a autora se refere é a idéia de simples preenchimento de orifícios. Não só para Sade, cujos textos são o objeto de análise do livro, mas também para o nosso imaginário coletivo, essa concepção é considerada a representação mais simples, a essência do que entendemos a respeito do ato sexual. Entretanto, nessa definição estão implícitos os papéis de passividade, desempenhado pelos seres de sexo feminino, e de atividade, desempenhado pelos de sexo masculino. Mesmo em relações homossexuais, cada um dos parceiros deveria representar um desses papéis descritos. Além disso, essa regra se aplicaria não só a relações sexuais entre seres humanos, mas também às que ocorrem entre animais, o que demonstraria o caráter universal dessa distribuição de papéis.

Essa concepção, entretanto, está relacionada aos papéis sociais desempenhados pelos homens e pelas mulheres em determinado momento histórico. As mulheres, que realizavam (e ainda realizam) tarefas ligadas ao âmbito privado, estariam em posição de submissão e passividade, o que seria transposto para seu papel no ato sexual. Os homens, por sua vez, destinados a tarefas de âmbito público, naturalmente deveriam cumprir o papel ativo da relação sexual.

Até hoje se verifica as relações de dominação e submissão no ato sexual em palavrões, do tipo “foder”, em que a posição de passividade, entendida como papel feminino tanto em relações heterossexuais quanto homossexuais, é utilizada para ofender ou mesmo para expressar uma situação de desvantagem, embora o uso desses palavrões não seja conscientemente relacionado ao seu sentido de origem todas as vezes em que são usados.

A idéia de que o ato sexual é um simples preenchimento de orifícios, enfim, esconde o contexto, as pessoas envolvidas, os valores de uma época, além de, traduzindo as palavras da autora, reduzir os atores do ato sexual a instrumentos de simples funções, em que a busca do prazer se torna, em si mesma, uma questão metafísica.

Nos dias atuais, a deturpação da sexualidade, reduzindo-a a funções, permite, no seu estado mais extremo, imaginar-se que o prazer pode ser adquirido isoladamente por meio de produtos eróticos, como se o próprio prazer fosse uma mercadoria, isto é, não seria mais necessário nem mesmo uma pessoa que realizasse um serviço sexual, como ocorre na prostituição; um objeto inorgânico seria suficiente para alcançar-se o prazer. Escondendo-se que esses produtos são fabricados com o intuito do prazer individualista, costuma-se dizer que estes serão utilizados por parceiros em uma espécie de jogo, o que apenas é uma possibilidade, e não uma regra.

Embora a redução da sexualidade a funções não tenha surgido a partir dela, a música funk que se desenvolveu no Rio de Janeiro reforça, por meio das letras, a banalização do prazer, em que o contexto social desaparece, em que o ser humano – dono de uma história própria, que faz parte de uma determinada classe social, que tem uma personalidade, que sofre e deseja ser feliz – é reduzido a um papel a ser desempenhado no sexo. Sem entender essas questões, as pessoas que defendem o funk como é hoje – pois nem sempre as letras eram escritas assim – acusam os críticos de moralistas, quando na verdade essa música apresenta os problemas descritos acima. Entretanto, “os críticos” não fazem parte de um mesmo grupo, nem necessariamente compreendem essa questão da mesma maneira apresentada neste artigo, portanto as críticas que se fazem são heterogêneas, as quais, por sua vez, também podem ser criticadas.

De certo tempo para cá, certas pessoas defendem que o funk seria uma maneira de libertação sexual das mulheres, porém essa é uma perspectiva masculina historicamente construída, uma vez que a deturpação da sexualidade foi um processo desempenhado pela atitude dos homens ao longo do tempo. Por terem dominado economicamente as mulheres em dado período histórico que ainda não foi ultrapassado completamente, os homens preocupavam-se mais com o seu próprio prazer do que com o das mulheres no ato sexual, comportando-se de maneira egoísta, o que somente era possível por estarem numa posição de dominadores – note-se que esse comportamento é muito semelhante ao das classes dominantes em geral ao longo da história. Ainda que a maioria dos avanços não tenha se generalizado completamente, as mulheres, após a invenção dos métodos anticoncepcionais, alcançaram certa liberdade por terem o controle de sua sexualidade, além de terem alcançado certa liberdade econômica, a qual permite que elas imponham-se nas relações sexuais para que os seus desejos sejam satisfeitos. Entretanto, com a banalização da sexualidade proposta inconscientemente pelo funk, as mulheres começam a comportar-se como homens no sentido historicamente determinado, isto é, pensando somente no seu próprio prazer, gerando individualismo, ainda que a mulher não esteja isolada de fato – fenômeno que se percebe em outras situações cotidianas.

Se compararmos o tratamento dessa questão no rap, dos EUA principalmente, e no funk brasileiro, perceberemos que este propõe que as mulheres se comportem de uma perspectiva “masculina”; aquele, por sua vez, defende a dominação do homem, como se percebe pela exaltação dos cafetões nas letras de músicas e nos videoclipes. Essa generalização, porém, é falsa, uma vez que não se trata do estilo de música, mas sim de quem a realiza. Tanto os cantores de funk quanto os rappers dos EUA defendem a dominação do homem na relação sexual; talvez a diferença entre os dois esteja na maior apresentação de contexto social no rap. Por sua vez, certas mulheres do funk e do rap propõem que as mulheres se comportem de maneira “masculina”, porém o pequeno acesso que se tem na mídia às rappers dos EUA já demonstra que uma suposta dominação das mulheres é algo difícil de acontecer, mesmo porque a participação feminina nesse tipo de música, tanto no funk quanto no rap, é muito menor quantitativamente. Isso explica, talvez, a tentativa de afirmação feminina por meio de valores masculinos tradicionais. Boa parte das mulheres desse meio artístico, porém, analisa a questão de outra maneira.

O funk só pode ser concebido como favorável às mulheres da perspectiva de que a sexualidade da mulher não é voltada estritamente à reprodução, porém isso não é novo, uma vez que Sade, por exemplo, que viveu entre os séculos XVIII e XIX, já entendia essas idéias numa época em que nem mesmo existiam os métodos anticoncepcionais. Limitar-se a isso, hoje, significa parar na história.

Este artigo não tem como objetivo culpar os homens ou as mulheres de qualquer problema, mas sim mostrar a relação dialética que existe entre os âmbitos público e privado. De certa forma, assim como em várias relações humanas atuais percebemos a dominação, a submissão e o individualismo, as relações sexuais também ocorrem da mesma maneira, são marcadas pela forma como a sociedade se organiza. Para a superação desses problemas, a sociedade inteira deve mudar, devem surgir um novo homem e uma nova mulher, como diz Alexandra Kolontai, o que somente é possível plenamente por meio da transformação da sociedade, por meio dos valores comunistas.

Fórum Social Mundial: começa ensaio da batucada no Rio de Janeiro!

As jovens do Comitê Popular de Mulheres convidam todas as companheiras da Marcha Mundial das Mulheres para estar conosco nos ensaios da Batucada e no debate de Mercantilização do Corpo e da Vida das Mulheres, que serão preparatórios para o Fórum Social Mundial de Belém do Pará. O Primeiro Ensaio será no dia 26 de julho de 2008.

A concentração do Ensaio da Batucada será às 14:00horas. Local: Ponto Final do 870 Bangu - Sepetiba, Praia do Cardo em Sepetiba Rio de Janeiro, aguardamos todas lá para colocarmos toda a nossa irrevêrencia para fora, e nos movimentarmos todas juntas para mudar o mundo e a vida das mulheres.

Saudações feministas a todas!

Ps:tragam latas para encrementar nossa batucada!!! Poderemos pintá-las de lilás nesta data!

terça-feira, 22 de julho de 2008

Ensaio Geral Fuzarca Feminista em São Paulo

Ensaio da Fuzarca Feminista, a batucada da Marcha Mundial das Mulheres aqui em São Paulo, acontecerá dia 26 de julho, no Vão Livre do MASP, a partir das 15h00!

segunda-feira, 21 de julho de 2008

oficina em são paulo!

Fotos da oficina que rolou em São Paulo de construção de materiais para a batucada.























A oficina para preparação dos instrumentos da Fuzarca Feminista é parte da retomada da ofensiva em São Paulo.
Nós já fizemos duas reuniões para dar conta da retomada. Na primeira atualizamos o debate sobre mercantilização. Participaram jovens ativistas da Marcha há algum tempo e outras que estão iniciando a militancia.
Dessa reunião, encaminhamos algumas coisas
A primeira delas é que vamos trabalhar o tema da prostituição. E a gente identificou que, para isso, a gente precisava ir mais atrás de aprofundar o nosso debate e os nossos argumentos contrários à prostituição. Fizemos uma segunda reunião, que teve dois textos de subsídio para o debate da prostituição. Um é o texto publicado no caderno do 1º Encontro da MMM, em 2006. O outro foi um artigo publicado na Folha Feminista, da SOF, chamado "Nem putas nem princesas". Nossa avaliação foi que embora a gente já tenha consenso em torno da crítica à prostituição, para fazer uma ação precisamos ir atrás de mais informações, dos mecanismos existentes, dos dados sobre tráfico de mulheres, do aumento da prostituição nos grandes eventos esportivos com audiencia majoritariamente masculina (Formula 1 e Copa do Mundo), etc. Então, cada uma saiu com a tarefa de buscar essas informações, e vamos fazer uma reunião de trabalho em agosto, para desenhar melhor o sentido da nossa ação contra a prostituição.
O outro encaminhamento da primeira reunião foi a retomada da organização da nossa batucada aqui em São Paulo: a Fuzarca Feminista. A gente tem há algum tempo um problema na batucada em SP: no 8 de março e em algumas outras manifestações, juntamos muitas meninas para batucar, mas não damos continuidades aos ensaios, à organicidade da Batucada. Pra mudar isso, tiramos um grupo de cerca de 10 meninas pra tocar a fuzarca, e a primeira atividade foi essa de confecção dos instrumentos.
O próximo encontro será para retomar os ensaios, concretamente. Vai ser no próximo sábado, dia 26. Assim que a gente marcar o lugar, confirmamos aqui no blog.

E nos outros estados?? Como está a retomada da ofensiva???

sexta-feira, 18 de julho de 2008

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Somos mulheres e não mercadoria!

Texto escrito por Amanda Mendonça, militante da MMM do Rio de Janeiro

Desde a década de 1970 o movimento feminista levanta a bandeira do “nosso corpo nos pertence”. Ela expressa o questionamento das mulheres em relação à sexualidade, à imposição de padrões e em relação à reprodução. Ela representa a autonomia das mulheres sobre seus corpos e suas vidas. E o que temos visto nos últimos anos é que este debate esta cada vez mais atual. No último período, em especial, estamos sofrendo uma série de ataques à nossa autonomia. Estamos vendo o Estado, as igrejas e os homens criarem cada vez mais artifícios para nos “prenderem” em padrões que servem ao mercado.

No Brasil, estes ataques estão cada vez mais intensos, e o exemplo mais recente é o da “guerra” que está sendo travada para tentar criminalizar ainda mais as mulheres que recorrem a um aborto. A mídia, todos os setores conservadores da nossa sociedade e, principalmente, as instituições religiosas têm feito uma verdadeira batalha para nos retirar os pequenos avanços obtidos. Essa ofensiva contra a autonomia de nossos corpos ganhou mais um ator, o Projeto de Lei que visa regulamentar a prostituição em nosso país.

Para além do que o projeto compreende, que de central é regulamentar, não só a prática da prostituição, como também o mercado que se esconde atrás dela temos que avaliar o que ele tem gerado. O debate trazido através deste projeto traz a tona as faces mais cruéis do neoliberalismo aliado ao machismo. E até os setores mais “progressistas” de nossa sociedade não compreendem que o capitalismo se apropria do sexo e mercantiliza até mesmo o desejo.

Quando falamos sobre a prostituição, não podemos deixar de avaliar o papel que a globalização e que o mercado cumprem no incentivo a sua prática. Eles representam hoje um fator central para a prostituição e para o tráfico de mulheres, trabalhando no aumento das desigualdades entre homens e mulheres. As indústrias do sexo (algumas multinacionais) geram lucros estrondosos e receitas importantes. São consideradas vitais para a economia de diversos países. Chegam a representar 5% do PIB dos países baixos e em média 8% do conjunto das atividades econômicas dos países asiáticos. Entre os países mais pobres a questão se agrava, pois o FMI e o Banco Mundial estimulam o desenvolvimento do “turismo” e do “lazer” como forma de reembolso da dívida desses países. Dessa forma, a prostituição passa a fazer parte da estratégia de desenvolvimento destes Estados.

Nesse sentido, legalizar a prostituição, na verdade, significa legalizar uma “indústria” que trabalha na expansão do tráfico de mulheres e que se apóia em uma economia subterrânea (bares, hotéis, agências, clubes). Com a prostituição e o tráfico de mulheres, lucram as companhias aéreas, o turismo e até mesmo os governos. Por isso, precisamos ter a compreensão de que a prostituição representa a mercantilização dos seres humanos e o sexo pago faz parte da estrutura que sustenta o capitalismo.

Assistimos hoje o neoliberalismo se apropriar do nosso discurso para impor sua exploração. Em nome da autonomia, do direito de controlar seu próprio corpo, passou-se a defender a legalização da prostituição. Cada vez mais a indústria do sexo é considerada um trabalho legítimo e, com o triunfo dos valores liberais, o sexo pago vem sendo normatizado. A submissão às regras do mercado e às leis contratuais liberais, além do discurso “de uma profissão como outra qualquer”, ou “é um simples trabalho” e até mesmo “é uma questão de liberdade” vem sendo utilizadas na sustentação desta política liberal. Como um trabalho que se baseia na violação dos direitos humanos e na opressão das mulheres pode ser considerado legítimo???

Outro argumento comumente utilizado é o de que legalizar a prostituição significa melhorar a vida das mulheres que fazem parte desta rede, oferecendo direitos e garantias que todos os trabalhadores possuem. Em primeiro lugar, a legalização representa um ganho de verdade é para o crime organizado, pois o que se normatiza é o mercado, a compra e a venda de mulheres. Mesmo onde é a prostituição é legal (Alemanha, Suíça, Grécia, etc.) o papel do crime organizado continua sendo fundamental na organização deste mercado e uma minoria das prostitutas se registra para ter acesso aos direitos sociais. A maior parte continua sob a “tutela” dos cafetões.

Cada vez que uma menina “escolhe” ser prostituta, como se realmente ela tivesse outra opção, tem atrás de si toda essa rede que engloba cafetões, tráfico, crime organizado e etc. Além disso, pesquisas comprovam que 80% das pessoas prostituídas foram vítimas de algum tipo de violência na juventude, o que contradiz o debate de que seria uma “escolha”. A defesa da legalização da prostituição é liberal, pois é baseada na visão onde o individuo escolhe seu caminho e onde as relações humanas estão submetidas ao dinheiro. A prostituição surge do liberalismo e não da liberdade.

Para nós, feministas e socialistas, é inadmissível que as mulheres sejam reduzidas a mercadoria, podendo ser compradas, trocadas, usadas e alugadas. Temos uma visão libertária de sexualidade, que é baseada na igualdade e não na dominação. A relação de poder é constitutiva da nossa organização social e também está presente no sexo. No sexo pago, essa relação se reproduz com o “comprador” tendo total domínio sobre a “mercadoria”. Essa “coisificação” e a mercatilização das mulheres têm como função a submissão de um sexo à satisfação dos prazeres sexuais do outro. Por isso, lutamos contra a prostituição. Lutar contra é lutar pela igualdade, que só existirá quando homens não puderem mais vender e nem explorar mulheres.

A nossa luta é todo dia, somos mulheres e não mercadoria!!!

terça-feira, 8 de julho de 2008

Construção de instrumentos para a batucada



Para construir os instrumentos que usamos na batucada procure materiais como tambores de plástico, latas de oleo (redondas ou quadradas), latas de leite em pó, cabos de vassoura(para fazer as baquetas), arame ou elástico, fitas, pregos, furadeira, e o que mais puder ser transforamdo em instrumentos.

-tambor
Dá o compasso para o ritmo (grandes tambores de plástico)
1. Corte um lado do tambor, e lave bem por dentro.
2. faça furos do lado fechado do tambor (ilustração 1).
3. Amarre um arame ao redor dos furos e passe pelo arame uma corda ou fita (1,5m), que será o suporte do instrumento.
Esse instrumento é carregado em cima de um ombro.

- latas
(latas médias redondas ou quadradas)
1. Faça furos nos 2 lados da lata (ilustração 1)
2. passe pelos furos uma corda ou fita que servirá como suporte do instrumento (esse instrumento vai ao redor da cintura)

-chocalhos
1. corte no meio qualquer lata ou recipiente pequeno (como latinhas de refrigerante, garrafas plásticas)
2. encha de pedras (não completamente!)
3. feche com fita adesiva

-baquetas
Você pode usar pedaços de cabo de vassoura como baquetas
Pra conseguir um som mais grave nos tambores, enrole pedaços de tecido em volta de ums ponta do cabo de vassoura

Batucada Feminista – ritmos de liberdade

A Batucada Feminista é um grupo de mulheres militantes, feministas, anti-capitalistas e anti-racistas, que no Brasil surge em 2003 como mais um instrumento de luta da Marcha Mundial das Mulheres, e, faz parte das ações contra a mercantilização do corpo e da vida das mulheres. A batucada é um espaço irreverente e permanente de organização. Além de um instrumento utilizado para a discussão política é um instrumento de visibilidade das ações da Marcha, seja no espaço de auto-organização ou nos espaços de militância mista.
A Batucada é também um instrumento de ousadia na construção de novos ritmos, músicas e palavras de ordem a partir do cotidiano da vida e da luta das mulheres e que os retratam, seja na denúncia do machismo ou nas alternativas encontradas pelas mulheres para a construção de um mundo igual.
A Batucada é um espaço onde as mulheres podem criar e recriar. Além da música e dos ritmos militantes, mostramos nossa irreverência e organizamos debates. Discutir os temas globais da sociedade é um instrumento de reconstrução do nosso cotidiano.
Quando tocamos na batucada estamos dizendo que queremos outras práticas e que não aceitamos a cultura musical machista e preconceituosa que ouvimos todos os dias, seja no rádio, nos shows ou nos programas de TV, que utiliza as mulheres como iscas de mercado.
Os instrumentos que utilizamos nas batucadas são feitos prioritariamente de materiais reciclados ou que fazem parte do nosso cotidiano. Tambores de plástico, latas de querosene, latinhas de refrigerante e cerveja, cabos de vassoura, e garrafas plásticas são alguns deles.
Além do debate e alegria que a batucada proporciona, o ritmo ajuda a gerar concentração, unidade e força nos momentos de ação coletiva. Tocar é uma forma direta de ação política, de levar o feminismo para os olhares e ouvidos da rua, expressando nossas lutas ocupando o espaço público. Aprendemos a nos organizarmos e coordenar nossos próprios ritmos de forma criativa e inclusiva. Batucar é divertido, nos faz sentir bem e eleva os espíritos frente à adversidade.
Organizar uma batucada feminista é uma ação militante bem prazerosa e fácil de desenvolver.
Dicas para montar uma batucada:

1º passo – Reunir um grupo de mulheres interessadas nessa idéia.

2º passo - Procurar materiais como tambores de plástico (aqueles que se usa para armazenar água ou colocar lixo), latas de querosene ou óleo (redondas ou quadradas), latas de leite em pó, latinhas de aluminio, cabos de vassoura (para fazer as baquetas), arame, elástico ou liga, fita isolante, prego, furadeira, spray ou outra tinta, cordas, retalhos de tecido e tesoura e o que mais a imaginação pedir para a construção dos instrumentos.

3º passo – Agora é só criar ritmos para a batucada!

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Operação Lambe-lambe


- Reúna as companheiras para tomar um guaraná e com alguma criatividade feminista, inventem mensagens e radicais, curtas, diretas, irônicas, raivosas, poéticas, como preferirem.

- Monte um cartaz bem fácil de ler. Com o Word Art do programa Word ou semelhante (se você estiver puder usar um software livre, melhor para todas nós!), crie uma figura para cada linha da mensagem que quiser escrever. Assim pode ajustar o tamanho de cada linha ao tamanho da folha.

- Com frases curtas, é possível criar cartazes de impacto em folhas tamanho A4. Você imprime em qualquer impressora e copia em qualquer máquina de xerox. Papel colorido pode ficar bonito.

- Preparem uma boa cola: para 3 partes de farinha, 1/2 de polvilho e água - adicione aos poucos: se colocar água demais vai ter que ferver muito pra sua cola ficar mais densa. Que seja líquido o suficiente para mexer com uma colher de pau. Misture tudo muito bem e coloque no fogo. Vá mexendo no fogo baixo até o grude ficar mais transparente do que era antes. Vai empelotar tudo, não se desespere: despeje tudo num balde, coloque mais água se for preciso e bata bastante para conseguir uma cola mais homogênea. No final um pouco de vinagre ou desinfetante evita que a cola mofe. Se não usarem farinha transgênica, a cola é totalmente caseira e inofensiva, se lava com água e sabão.

- Organizem-se em equipes de três:
a primeira com um balde cheio de cola numa mão e uma brocha grande na outra.
a segunda com uma bolsa, dessas que a gente ganha no fórum social mundial, cheia de cartazes
a terceira, não menos importante, com olhos e ouvidos atentos.
A primeira passa generosamente uma camada de cola, a segunda afixa o cartaz, a primeira passa cola por cima de novo.
A terceira vai vigiando e prevendo o caminho.

Dois grupos podem seguir pela mesma rua ao alcance da vista umas das outras: dá mais confiança.

Existem basicamente duas formas de fazer a colagem:
Na calada da noite > versão extensiva e anônima: pode ser feita em grandes mutirões, permite cobrir áreas maiores, gerando surpresa no dia seguinte.

À luz do dia > versão intensiva e performática: exige contato direto com as pessoas que estão passando na rua. Nesse caso, é bom ter uma pessoa a mais em cada equipe para ir conversando com quem se aproximar e possivelmente um panfleto informativo para distribuir.


É simples, não requer prática ou habilidade e dá o que falar.
Vamos pra rua?