segunda-feira, 30 de julho de 2012

Nota de repúdio da Marcha Mundial das Mulheres à publicidade sexista da Preservativos Prudence


A Marcha Mundial das Mulheres repudia o anúncio da empresa Preservativos Prudence, pertencente à campanha “Dieta do Sexo”, por apologia ao estupro.

A publicidade foi colocada na página da Prudence no Facebook no dia 16 de julho, e só hoje (30/07/12) retirada de circulação. Tal anúncio refere-se a uma “Dieta do Sexo”, mostrando quantas calorias é possível perder praticando diferentes atos sexuais. Entre os atos citados, há dois polêmicos: “Tirando a roupa dela sem o consentimento dela: 190 cal” e “Abrindo o sutiã com uma mão, apanhando dela: 208 cal”.

Apesar da alegação de ambiguidade, o primeiro item não deixa dúvidas, pois menciona explicitamente se tratar de uma relação sexual não-consentida: sexo sem consentimento é estupro. Pior que isso: a empresa sugere que sexo forçado (estupro) "vale mais", pois gastam-se 190 calorias, do que sexo com consentimento (10 calorias).



 Veicular este tipo de publicidade, sobretudo em um contexto em que a violência contra as mulheres é uma realidade alarmante, é inaceitável. Segundo dados da Fundação Perseu Abramo, a cada 2 minutos, 5 mulheres são espancadas no Brasil. Uma em cada dez mulheres (10%) já foi de fato espancada ao menos uma vez na vida. Segundo dado do Instituto Sangari (2012), de 1980 a 2010, foram assassinadas no país perto de 91 mil mulheres; 43,5 mil só na última década.

 Sobre a alegação de que “estuprador não usa camisinha”, basta lembrar que, em mais de 80% dos casos de violência denunciados pelas mulheres, o responsável é o próprio parceiro (marido ou namorado). De acordo com estudo do Centro Brasileiro de Estudos Latino-americanos e da Flacso Brasil, em 2011, 10.425 pessoas foram atendidas em hospitais vítimas de violência sexual. Em 23% dos casos, pais e padrastos foram os responsáveis pelo abuso.

Em um primeiro momento, a Preservativos Prudence buscou, no espaço de comentários da imagem no Facebook, justificar a situação. Disse ser contrária à violência, alegando que a propaganda não faz apologia a estupro, mas sim à “conquista”. Ou seja, de acordo com a empresa, fazer sexo sem o consentimento da mulher é conquistá-la. Na tentativa de consertar a situação, só conseguiu piorá-la. Ao invés de reconhecer que a propaganda faz apologia a um crime, colocou esse tipo de agressão como algo normal, banal, uma mera “conquista”. Há de se lembrar que a minimização do estupro é uma das causas pelas quais as vítimas não têm apoio, e muitas vezes nem conseguem efetivar uma denúncia. Quando tomam a iniciativa de denunciar o agressor, é comum ainda serem responsabilizadas pela própria agressão devido a seu “comportamento permissivo”.

Em seguida, a empresa, afirmou, novamente, no Facebook, não defender a prática do estupro, alegando que essa “piada” já havia sido divulgada antes, em vários blogs, em uma clara tentativa de tirar dos próprios ombros a responsabilidade pela veiculação de uma propaganda que banaliza a situação de estupro, e que, assim, contribui para a manutenção de uma realidade perversa para as mulheres.

Em momento algum houve reconhecimento do fato. Em nenhum dos pronunciamentos da Preservativos Prudence foi dito que sexo sem consentimento é estupro. Apenas foram emitidos comunicados vagos de que a empresa é contra a violência sexual e a favor do uso de camisinha em todas as relações.

Nós, da Marcha Mundial das Mulheres, estamos ao lado das mulheres que vivenciam a violência, todos os dias, no Brasil, portanto, exigimos que haja uma retratação pública por parte da empresa, em que ela reconheça que o conteúdo da propaganda faz apologia ao estupro. Exigimos que a Preservativos Prudence invista em uma campanha cidadã de combate à violência contra as mulheres. Exigimos, também, que sejam tomadas as devidas providências legais com relação ao conteúdo veiculado.


A violência contra a mulher não é o mundo que a gente quer!

 Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!


Marcha Mundial das Mulheres