sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Contra o machismo da direita, um voto para a igualdade

O candidato à presidência José Serra, do PSDB, expressou em sua declaração, nesta quinta-feira, o machismo que orienta não apenas sua campanha, mas sua atuação política no último período: “Se você é uma menina bonita, tem que conseguir 15 votos. Pegue a lista de pretendentes e mande um e-mail. Fale que quem votar em mim tem mais chance com você”.

Repudiamos todas as práticas que pretendem obter qualquer tipo de lucro a partir do uso do corpo das mulheres, seja no turismo sexual, na indústria do entretenimento ou no tráfico de mulheres para a exploração sexual que movimenta pelo menos 58 bilhões de dólares anuais. O conteúdo explícito da declaração de Serra, ao incentivar que as meninas se ofereçam em troca de votos para este candidato misógino, incentiva estas práticas.

A misoginia do governador faz coro com uma sociedade que trata as mulheres como objeto na publicidade, nos meios de comunicação e nas ruas. Repudiamos o conteúdo desta declaração, que considera as mulheres a partir de sua aparência, tendo como referência um padrão de beleza que faz com que milhares de jovens desenvolvam doenças como anorexia e bulimia. A imposição de um modelo ideal e inatingível de beleza expõe as mulheres às promessas da indústria dos cosméticos, remédios e cirurgias plásticas que destroem a autoestima das mulheres.

Em uma sociedade em que a cada dia 10 mulheres são assassinadas por homens, o candidato reforça uma visão conservadora e machista de que as mulheres e seus corpos estão disponíveis para o consumo por meio da venda direta ou indireta. Nesta sociedade em que, em apenas 7 meses, mais de 340 mil mulheres denunciaram ser vítimas de violência sexista, o candidato se recusou durante meses a assinar o Pacto de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, enquanto governador de São Paulo. Após a assinatura, fruto de intensa pressão do movimento de mulheres organizado em SP, o então governador não investiu na implementação deste Pacto. Enquanto governador, José Serra foi, portanto, conivente com a violência sofrida a cada 15 segundos por uma mulher brasileira. Enquanto candidato à presidência, José Serra é a expressão do que há de mais machista e reacionário com relação às mulheres. Não por acaso, o candidato conta com apoio de dirigentes da TFP, agrupamento que se situa entra os mais conservadores do Brasil.

A atuação política e as declarações do candidato com relação às mulheres é uma agressão a todas nós que, nos dias de hoje, seguimos a luta de milhares de mulheres que nos antecederam reivindicando o direito a sermos respeitadas como cidadãs, portadoras de razão e direitos.
Ao contrário do que o candidato José Serra pensa, nós mulheres temos capacidade de refletir e decidir sobre nossas vidas e sobre nosso voto. Convencemos homens e mulheres a partir de nossos argumentos, e não do oferecimento de nossos corpos.

Repudiamos o preconceito e a discriminação expressados pelo candidato José Serra.

Estamos convencidas de que as mulheres podem ocupar os postos de trabalho em condições de igualdade com os homens, inclusive participando da política. Podemos (e queremos) ser vereadoras, prefeitas, deputadas, senadoras, governadoras e presidentas, e não apenas utilizar de nossos corpos para obter votos para os homens, como propõe o candidato José Serra.

Decidimos votar na candidata Dilma Roussef, que é parte de um projeto histórico que incorpora a liberdade e igualdade das mulheres como princípios, e estamos conscientes de que os desafios para alcançar estes objetivos são muitos e não se encerram em uma eleição.

Estamos ao lado da candidata que foi fundamental na condução do governo Lula, que ampliou a uma escala nunca antes conhecida o reconhecimento das mulheres como cidadãs. Reconhecemos os avanços referentes ao direito à documentação da mulher trabalhadora rural, que emitiu mais de um milhão e duzentos mil documentos civis e trabalhistas para as mulheres rurais, garantindo-lhes a possibilidade de acessar as políticas públicas e a efetivação de seus direitos, como a titulação conjunta, permitindo que se tornassem coproprietárias da terra em que trabalham, e não mais apenas dependentes dos maridos, chefes de família. Reconhecemos as iniciativas que iniciaram um enfrentamento articulado e concreto à violência sexista, a partir da elaboração e aprovação da Lei Maria da Penha e da implementação do Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher.

Estamos ao lado da candidata que defende em sua prática política e em seu programa de governo a soberania de nosso país e a integração solidária com os países vizinhos na América Latina.

Estamos ao lado da candidata que propõe a criação de 6 mil creches públicas, condição fundamental para que as mulheres possam exercer seu direito a um emprego com salário e condições dignas.

Estamos ao lado da mulher que lutou e luta pela liberdade e pela democracia, e estamos convencidas de que a efetivação da democracia para todos os brasileiros e todas as brasileiras exige a garantia da autonomia e autodeterminação das mulheres.

Estamos em marcha até que todas as mulheres sejam livres!

Por Tica Moreno, Bruna Provazi (Marcha Mundial das Mulheres) e Fabíola Paulino (Diretora de Mulheres da UNE)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Sobre o SWU

É com grande indignação que escrevo esse texto, porém já era claro pra mim que não seria diferente. O SWU é um evento com falsas ideologias. Não há como não dizer a verdade depois do que foi visto por lá. É o novo e famoso “marketing verde”.
Logo na entrada já é possível avistar os patrocinadores do evento: Coca-Cola e Nestlé. Caminhando mais um pouco é possível ver que a energia usada no evento é elétrica, lógicamente havia dinheiro suficiente para colocarem placas solares, pelo menos mostrarem formas de energias renováveis. O lixo era todo dividido para a reciclagem... era o MÍNIMO que eles poderiam fazer. A alimentação era baseada na carne, que faz parte e fomenta a industria da insustentabilidade já que é um dos ciclos que mais contribuem para o aquecimento global no Brasil, 60% do nosso CO2 provém das queimadas e quase todas tem como objetivo produzir pastos, 20% do gás metano é produzido pela flatulência dos bois. Dentro do evento acontecia o Fórum Global de Sustentabilidade, o qual ocorria entre 12 e 14 hs, 2 horas por dia apenas. O que foi dito por lá é que grandes discussões aconteceram, como: Inclusão de Minorias em "Mulheres que têm feito a diferença", o que é muito interessante, debates sobre reciclagem, falas sobre relações interpessoais para criar formas de ações a favor da sustentabilidade. Positivo. Devo minha sincera admiração às Organizações que, ao meu ver fizeram a diferença: 350 (www.350.org), Greenpeace, Ecogreens (www.ecogreens.com.br) e Matilha Cultural (www.matilhacultural.com.br).
Nós do Teatro Mágico apoiamos a luta pelo Meio Ambiente, portanto articulamos um Ato no nosso show. Soltamos um banner dizendo: 10/10/10 – TM PELO CLIMA e jogamos duas bolas infláveis no público representando o planeta e dissemos: O planeta está na mão de vocês! Fernando usava uma camiseta do MST e salientou a importância da reforma agrária e da agricultura familiar para o desenvolvimento sustentável do nosso país. O palco é nosso local de militância, não podíamos deixar de mostrar nossa luta em um evento como esse.
O ápice da mentira descarada do SWU foi quando falaram para a multidão gritar, pois mediriam os Dbs e quanto mais alto as pessoas gritassem, mais a Nestlé plantaria árvores. UM ABSURDO, vocês sabem o quanto a Nestlé fomenta a indústria da Devastação florestal? Já viram o que eles fazem na Indonésia? Pois então assistam o Documentário Green, que mostra o verdade dessa empresa: clique aqui para ver
Um evento elitizado por conta do preço do ingresso e muito, muito desorganizado, movido pelo capital e não pela bandeira da sutentabilidade. Uma grande mentira.
E o nome: Start with you, temos que levar ao pé da letra, porque tenho a plena certeza de que o que eles quiseram dizer com: Começa com você, é isso mesmo... com você e não com eles.

Gabi Veiga, publicado no Habitos e Habitat.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Eu aborto, Tu abortas, nada nos calará!

Companheiras da FEUU (Federación de Estudiantes Universitarios del Uruguay) publicaram no último 28 de setembro no site da FEUU, Dia Latino-Americano de Luta pela Descriminalizaçao do Aborto, 6 histórias que abordam a realidade do aborto no Uruguai. 


O Estado uruguaio orienta as mulheres de como realizar o aborto de maneira segura. Entretanto, não viabiliza os métodos para realização do mesmo, em condições insalubres e sem nenhuma orientação médica milhares de mulheres, assim como no Brasil, morrem. Confira as histórias que evidencia que são as mulheres pobres que mais sofrem com essa terrível situação de ilegalidade.


Denunciar:
Eu aborto, 
Tu abortas, nada nós calará!
por Comissão Direitos Humanos [Aecco] da FEUU, terça, 28 de setembro de 2010 às 17:15


JUANA TIENE 20 ANOS, é mãe de filhos de dois e três anos. O maior vive com ela e o mais velho com sua avó. Ambas crianças sofrem de paralisia cerebral. Ela não tem trabalho nem outros recursos; sua pobreza é extrema. Foi a uma policlínica onde recebeu orientação sobre como interromper a gravidez sem risco e isso foi tudo. Por isso, depois da consulta, peregrinou pelas organizações sociais de seu bairro: abraçada a seu filho doente pedia ajuda para abortar. Depois de quatro semanas uma assistente social se comoveu e organizou uma coleta que permitiu a Juana obtivesse o misoprostol. Juana abortou na décima segunda semana de gestação.


MARÍA TIENE 32 ANOS, para sua família era impossível sustentar outro filho no momento que ficou grávida. Com relativa facilidade obteve informações sobre como abortar sem risco, mas para obter o misoprostol necessitou chegar a uma oculta rede solidária. Desde a sétima até a décima terceira semana realizou intervenções com o medicamento. Foram dez madrugadas de solidão, buscando qualquer sinal de seu corpo. Foram dez madrugadas de clandestinidade médica e omissão de assistência.


ROMINA TIENE 18 ANOS, Sua mãe e suas irmãs trabalham para que ela estude. Na casa estão orgulhosas de que ela vai bem no Liceu. Romina ficou grávida e o medo lhe roubou a palavra. Não pôde dizer nada; não pôde comer mais e chegou a cometer uma tentativa de suicídio, motivo pelo qual foi internada. Passados três dias lhe deram alta, e de volta na sua casa compartilhou seu drama. As irmãs se mobilizaram; contra relógio fizeram a consulta e conseguiram o medicamento. Romina tomou os comprimidos e esperou: primeiro chegou a dor, depois os vômitos, a diarréia e a febre; no final foi o alívio.


CRISTINA TIENE 44 ANOS, filhos grandes e uma neta. Uma nova gravidez a surpreendeu ela e o marido. Depois pensarem muito sobre o assunto, decidiram não continuá-la. Foram à casa de uma vizinha que entregava comprimidos no bairro, que lhe indicou aonde ir. No dia da consulta no Hospital Pereira Rossell uma mulher a abordou na sala de espera e lhe ofereceu o misoprostol. Cobrava três mil pesos por quatro comprimidos; trocaram telefones. Cristina, depois de receber do Hospital mais nada que informação conseguiu um empréstimo, marcou um encontro com a moça e tomou os comprimidos.


MARIANA TIENE 19 ANOS, está decidida a não continuar a gravidez que a surpreendeu. Ela e seu namorado organizam uma reunião com as famílias de ambos para explicar a situação e pedir ajuda. Vivem em um dos departamentos do interior onde nenhum serviço de saúde brinda orientação. As famílias chamam  diferentes contatos até que consigam alguém que lhes oriente. Então, Mariana e seu pai viajam para Montevidéu onde fizeram uma consulta médica e conseguiram o misoprostol. De volta, seguindo as instruções coloca o medicamento. Sem dor, sem sintoma algum, Mariana sangra por três dias. Ao quarto dia uma dor intensa põe em alerta à família. Imediatamente acodem à emergência onde fica internada por complicações até que a consideram fora de perigo. “Até agora não me tinha dado conta até onde se equivocou Tabaré com o veto”, repete o pai mais de uma vez.

ALICIA TIENE 20 ANOS, seu companheiro  tem 21 anos e seu bebê um ano. Vivem todos na casa de sua sogra em um bairro de trabalhadores pobres perto de Montevidéu. Quando soube que estava novamente  grávida consultou seu companheiro, juntos decidiram que naquele  momento seria uma irresponsabilidade colocar outro filho no seu mundo. Foram a uma consulta de orientação no Hospital Pereira Rossell e voltaram sem saber por onde começar a resolver na prática. Passaram muitas semanas antes que pudessem conseguir o misoprostol. Não falaram de sua situação nem a decisão com ninguém. Quando conseguiram os comprimidos Alicia os tomou como lhe indicaram fazê-lo, mas sozinha no banho para que sua sogra não a visse, e quando seu companheiro estava trabalhando. Como estava na décima sétima semana de gestação a evacuação foi rápida, violenta e dolorosa em mais de um sentido. A sogra ouviu as queixas, viu o sangue no chão e chamou o plantão de emergência (911) para que a socorressem. Ia chegar mais rápido que a assistência médica. O Estado uruguaio assessorou a Alicia sobre como abortar sem risco, e o mesmo Estado uruguaio a deteve, submetendo à justiça penal por fazê-lo.



Jéssika Martins Ribeiro - militante da Marcha Mundial das Mulheres e vice-presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE|SP)