quinta-feira, 14 de julho de 2011

CARNE – Patriarcado e Capitalismo

“Carne”, discuti a opressão sobre o sexo feminino e a desigualdade ente os sexos que se manifesta nos espaços público e privado.

Inspirado na autora austríaca Elfriede Jelinek, em notícias de jornais, estatísticas de violência contra a mulher, e em textos da historiadora Michelle Perrot, o espetáculo "Carne - Patriarcado e Capitalimos" discute as relações profundas entre patriarcado e capitalismo, mostrando, através de procedimentos épicos ou “pós-dramáticos” (segundo a expressão de Hans-Thies Lehmann), o panorama da opressão de gênero e a situação específica da violência contra as mulheres no Brasil.


Em cena, duas mulheres apresentam estatísticas, representam pequenas histórias, mostram bonecas infantis, pintam-se obsessivamente, enunciam trechos bíblicos e cantam músicas discriminatórias enraizadas no imaginário popular brasileiro. Além disso, imagens publicitárias e de obras de arte contemporâneas, são projetadas numa grande tela.

Confira trailler da peça e o caderno de texto que a Kiwi Companhia de Teatro preparou:








segunda-feira, 11 de julho de 2011

Você (não) precisa de um homem pra chamar de seu

por Mariah Aleixo*, originalmente publicado em www.mulheresemmarcha.blogspot.com




Filosofia é poesia é o que dizia a minha vó
Antes mal acompanhada do que só
Você precisa de um homem pra chamar de seu
Mesmo que esse homem seja eu*








A construção social dos papéis que mulheres e homens devem cumprir na sociedade ocorre de maneira mais ou menos genérica em nossa sociedade (ao menos naquelas ditas ocidentais): aos homens, a força, a palavra, o espaço público, a política; às mulheres o lar, a compreensão, o cuidado (com os outros, não consigo mesma). A lista de papéis, ou amarras, é enorme. Mas pretendo aqui debruçar-me sobre o cuidado.
A nós sempre é destinada a tarefa de cuidar das crianças, das pessoas idosas, doentes, ou mesmo cuidar do marido, da casa. É como se ser mulher fosse somente isso. E durante muito tempo, aliás, ainda hoje, a identidade “mulher” estava ligada ao outro de quem se cuida: mãe, esposa. E não precisa ir muito longe, é só olhar os sinônimos para o vocábulo Mulher no dicionário Aurélio. Isso parece se estender até a esfera da sexualidade. Para ser considera sensual temos que estar adequadas ao olhar masculino e não às roupas e sapatos que nos parecem mais confortáveis, a própria dinâmica das relações sexuais ocorre de maneira a privilegiar o prazer masculino, falando sob o ponto de vista heterossexual.
Mas onde (e quando) aprendemos a cuidar de nós mesmas? Será que aprendemos? Precisamos mesmo depender do olhar (e avaliação) alheia para ser quem somos?
Uma entre tantas propostas e tarefas do feminismo é afirmar a autonomia e liberdade das mulheres, ou seja, somos protagonistas da nossa própria história e não devemos simplesmente e somente obedecer ao leque que opções “possíveis”, ou melhor, impostas. Podemos ser qualquer coisa, se quisermos. Podemos não ter filhos, pilotar aviões, casar, não casar, ter relações com outras mulheres, ser presidentas, enfim. Acredito que todas nós, feministas ou não, lutam diariamente para construir sua autonomia, mas a dependência do olhar alheio continua a ali, profetizando que só se pode ser mulher em função de um outro, este, geralmente masculino.
Assim, dizer-se feminista e agir como tal, assim como construir uma história possivelmente diferente das nossas mães e avós não é fácil. Digo isso porque a dependência não se esvai quando se alcança a independência econômica, o caso da Maria da Penha é emblemático. Uma mulher pós-graduada, que não dependia financeiramente do marido, aceitar tudo aquilo (durante muito tempo) calada? Soa totalmente incoerente. E é. Mas há explicações.
A todos aqueles que colocam a luta feminista à prova todas as vezes que alguma mulher mostra em seus atos essa dependência de que falo aqui, um recado: “o buraco é mais embaixo”. Esse modelo de relações constrói e continua construindo nossas subjetividades. Lutar contra ele é travar diariamente uma batalha interna. É saber que não se precisa de um homem pra chamar de seu, isso é apenas o “que dizia minha vó.” Felizmente, temos um leque de possibilidades para descobrir.

P.S. Nas fotos: Frida Kahlo e Leila Diniz. A primeira foi mulher pintora, mostrou que sim, podemos fazer arte, marcar eras! A segunda provocou a ira dos moralistas ao posar mostrando a barriga da gravidez, sem preocupar-se com o olhar dos outros, ou se pensariam que ela era uma vadia.


* Mariah Aleixo é estudante de Direito e militante da MMM/PA
**Música "Mesmo que seja eu" de Roberto e Erasmo Carlos