quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Ensaio Fuzarca Feminista em São Paulo

Gente,

Depois da incrível experiência de batucar ao lado de mulheres da Marcha Mundial das Mulheres de todo Brasil - éramos mais de 100 batuqueiras - no FSM 2009, nós aqui em São Paulo, voltaremos a ensaiar, agora pra bombar no 8 de março!!!

Será dia 28 de fevereiro, as 15h00, no Vão Livre do Masp, na Avenida Paulista.

Saudações Feministas, anti-capitalistas e anti-racistas!!!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Mulheres do Chile e Líbano

Meninas, aqui vai uma conversa entre Mariela Erazo da Corporación Humanas (Chile) e Farah Salka da Liga de Ativistas Independentes (Líbano). São duas militantes feministas que passaram por São Paulo ano passado e visitaram a SOF pra conhecer a MMM.
Essa conversa foi extraída do blog www.raoni.info

Mariela: Quais são as principais violações de direitos humanos das mulheres no Líbano?

Farah: Basicamente quando se fala em violação dos direitos humanos das mulheres no Líbano, se fala em vários níveis.

Não só há o sexismo, como as mulheres não têm consciência que são oprimidas. Não são opressões explícitas e como estão em todas as partes, nas igrejas, escolas, locais de trabalho, acham que é normal. Por exemplo, as mulheres Libanesas não podem conceder nacionalidade aos seus filhos e companheiros, somente os homens o podem, se eu tiver um marido mexicano e filhos com ele, mesmo vivendo no Líbano, terei de pedir permissão para que meus filhos vivam no país uma vez por ano.

No Líbano as mulheres para serem aceitas socialmente tem que portar-se conforme o estereótipo de beleza, comportamento, complacência, tudo para agradar aos homens. Não podem desempenhar tarefas tidas como masculinas, como dirigir táxis por exemplo, sem serem taxadas de "problemáticas".

Apesar de muitas mulheres terem acesso à educação, não ocupam espaços de comando nem em organismos estatais e tão pouco em empresas privadas.
Por isso que faço parte desse movimento, a Liga de Ativistas Independentes. Temos o movimento "Banat Akhir Zaman" que significa "as garotas dos últimos tempos", utilizado de forma pejorativa para garotas mais jovens que saem com freqüência, agem com liberdade. Adotamos essa expressão com forma de afirmação da nossa condição, queremos ser diferentes mesmo.

Estamos trabalhando por uma lei que criminalize a violência familiar. Queremos trabalhar a consciência das mulheres para que saibam da existência da lei, a vizinhança a utilize, que seja agentes de sua própria proteção, que denunciem.

M: Existem articulações entre as organizações feministas em âmbitos nacional, regional e internacional?

F: A "Banat Akhir Zaman" é uma organização de todo o mundo árabe, não somente no Líbano. Organiza entre cinco e seis mil garotas. O Líbano assinou muitas convenções internacionais sobre direitos humanos, mas esses direitos não saem do papel.

M: Gostaria que comentasse sobre a participação política das mulheres, sobre a situação dos direitos sexuais e reprodutivos no Líbano.

F: Nas Universidades do Líbano há até mais mulheres que homens, mas isso ocorre pois somente os homens viajam, inclusive para estudar, então se levarmos em conta o total de estudantes libaneses os homens são a maioria. Mas a questão principal é que as mulheres se concentram em carreiras socialmente desvalorizadas, se formam mais não ocupam cargos importantes, quando casam abandonam a profissão. Atualmente, das 128 cadeiras do parlamento, somente seis são mulheres. Sendo que essas só ocupam a posição devido a parentesco com outros parlamentares e políticos homens, não tratam das temáticas das mulheres. No judiciário ocorre o mesmo.

M: Poderias comentar sobre os direitos civis e políticos das mulheres, especialmente em relação ao assassinato da ex-Primeira Ministra Paquistanesa, Benazir Butho e as detenções arbitrárias de Asma Jihangir e Hina Jilani?

F: No Líbano, notícias de assassinatos de lideranças femininas não são tratadas e compreendidas pelas mulheres como questão de gênero. Assim não se guarda dados, não são lembradas.

M: A maior parte das informações que recebemos são da Anistia Internacional com abaixo-assinados, em que ponto o apoio internacional é relevante?

F: Algumas campanhas são ajudadas pelo apoio internacional, mas outras não requerem. Por exemplo, as mulheres do Sri Lanka são as mais exploradas no Líbano. E não se pode buscar apoio da Embaixada do Sri Lanka porque são eles os próprios promotores do tráfico de seres humanos, a exploração das mulheres migrantes em troca do lucro.

M: As mulheres tem acesso a educação sexual e anticoncepcionais?

F: Nada. As mulheres não sã educadas sexualmente e são privadas de anticoncepcionais. O máximo que ficam sabendo são do seu período menstrual. E nas poucas escolas de elite, quando há educação sexual, há uma sessão por ano, onde se separam os meninos das meninas e não se fala abertamente do tema, suprimindo informações importantes de proteção à saúde.

M: E como está a situação de violência contra as mulheres no Líbano?

F: Muito mal, não há sequer dados de registro. Há assédio nas ruas a mulheres desacompanhadas, que são muito desrespeitadas. Ocorre muitos estupros dentro do casamento, que não são punidos.

F: E qual a situação de Chile quanto as violações dos direitos das mulheres?

M: Não existe um nível adequado de educação sexual e acesso a métodos anticonceptivos, implicando uma alta taxa de gravidez de adolescentes. O que ocorre principalmente entre as jovens de baixa renda. Neste ano se proibiu a distribuição da "pílula do dia seguinte" na rede de saúde pública, caracterizando a discriminação de classe, pois as que têm recursos podem comprá-las na farmácia.

A violência doméstica é um grave problema, numa população de quinze milhões de habitantes, são assassinadas setenta mulheres por ano pelas mãos dos seus companheiros. Esse feminicídio não é protegido pelo Estado, por não haver prevenção e tão pouco proteção aos mulheres ameaçadas, essas que mesmo sobre proteção estatal são assassinadas demonstrando a total ineficácia dessas medidas.

A situação tem melhorado devido a um aumento da cobertura da mídia aos casos de violência, principalmente relacionando-os a opressão de gênero e utilização de termos mais politizados como feminicídio, por exemplo.