Esta apreciação será seguramente estéril e inautêntica; mas não é possível que os homens aceitem a refutabilidade de certas imagens. Certo, é que a publicidade e a imprensa controlam suficientemente e fortemente estes tempos pobres, mas é surpreendente a plasticidade deste sistema; é admirável a capacidade de insulto e ilusão elogiosa que as pessoas recebem e alimentam em certas campanhas publicitárias, submetendo todos a toda a sorte de ofensas. Tem que se ficar perplexo com estas propagandas, diante da não necessidade de usar subterfúgios para abarcar as pessoas-produto; pois não é mais necessário a alusão ou a insinuação; diz-se diretamente: - Use desodorante x e consiga muitas mulheres; - Compre o novo carro t, e não troque de carro, troque de vida! Isto de fato é um prodígio, pois a enganosa fragmentação de idéias chegou às massas de modo que não é mais sequer disfarce. Por outro lado, os publicitários parecem ser mais sinceros, de modo que, se por hipótese, alguma pessoa consegue entender seu presente, ela poderá ficar pasmada, pode tentar descobrir o que é ilusão e o que é realidade... Parece demagogicamente honesto.
Mas, o que diria a Sr.a Claire Demar, feminista sainsimoniana, defronte aos apelos desta publicidade, incrivelmente realizada no século XXI?, o que a Sr.a Claire diria para simpática e bela moça que deseja o simpático rapaz como seu sonho de consumo em uma propaganda de determinada marca de gasolina?. Certa feita, a senhora Claire chegou a afirmar que: “a revolução nos costumes conjugais não se faz na esquina das ruas ou em praça pública, durante três belos dias de sol, mas se realiza em todas as horas, em todos os lugares (…) nas longas noites que transcorrem insípidas e frias, como existem tantas na alcova conjugal. Esta revolução mina e mina sem parar o grande edifício erguido em benefício do mais forte (…) a fim de que um dia o fraco, como o forte, possa reclamar com a mesma facilidade o total de felicidade que todo ser social tem direito de pedir à sociedade.” [Claire Demar, Ma loi d ’avenir, (1833)]. Pois, parece que este dia chegou, ou não... Esta campanha publicitária de gasolina é tão provocante e tão significativa, que pode parecer de fato, que a caminhada da humanidade em seu “progresso inevitável”, parece retroceder. “A unificação da qual as mulheres não são as únicas, mas em todo caso as principais vítimas, posto serem os sinais mais visíveis da impossibilidade de reduzir todas as diferenças, como também da impossibilidade de construir as relações humanas somente sobre a razão”, [Eleni Varikas, “O pessoal é político”: desventuras de uma promessa, Tempo, 1996] não se concretiza. As mulheres ainda não dizem “eu” sem solicitar permissão.
Faz-se silêncio diante de tamanha agressão; deste lugar comum que nos embriaga diante do consumo; que entope de antidepressivos os que são infelizes por não serem felizes; desta possibilidade benjaminiana da catástrofe, e de toda a anti-intelectualização dos seres contemporâneos sem brilho no olhar. Silêncio que trago através da obra “O Silêncio”, de Odilon Redon; e para apoiar a utilização desta, faço uso dos comentários do estúdio Casthalia: esta obra que nos remetem ao silêncio do antes da criação e ao silêncio do fim dos tempos. Mas, perigosamente, amplio por dizer, que este trabalho também nos remete ao silêncio que vivemos diante do torpe capitalismo presente. A imagem realmente tem um o olhar contemplativo e voltado para baixo, e parece exprimir um sentimento ambíguo entre a possibilidade de alguma coisa ocorrida, ou prestes a acontecer. É um agora que depende do antes ou do depois para existir como essência de um momento.
E assim, sou lançado novamente as leituras de Walter Benjamim sobre a história e à sua tese mais citada; a Tese IX faz alusão ao anjo de Paul Klee, que tem seu rosto voltado para o passado e enxerga uma única catástrofe, que sem cessar amontoa escombros e os arremessa a seus pés; ele “gostaria de demorar-se, de despertar os mortos e juntar os destroços. Mas do paraíso sopra uma tempestade que se emaranhou em suas asas e é tão forte que o anjo não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, para o qual dá as costas, enquanto o amontoado de escombros diante dele cresce até o céu. O que nós chamamos de progresso é essa tempestade.” A tese, além de ter dimensão profética, nos posiciona diante da profunda crise da cultura moderna; para Benjamim a quintessência do inferno é a eterna repetição do mesmo (Sísifo e Tântalo); repetição que toda a sociedade está posta em nossos tempos; sociedade dominada pela mercadoria submete-se à repetição, ao “sempre igual” disfarçado em novidade e moda: no reino mercantil, “a humanidade parece condenada às penas do inferno”. Mas, Benjamim desmistifica o progresso fixando não só o olhar marcado por uma dor profunda e inconsolável, mas também por uma profunda revolta moral; Benjamim critica explicitamente a conduta positivista do evolucionismo histórico que conduz a humanidade através do progresso ao triunfo da razão rumo à consciência da liberdade. [Michael Löwy, Walter Benjamim: aviso de incêndio, 2007].
Ocorre que este povo parece estar mais sob o olhar do anjo de Schiller (tranqüilo e alegre) que observa as atividades de um povo pacífico que se alimenta inocentemente do leite de seus rebanhos; do que do anjo desesperado de Benjamim. Os ‘inlibertos’ continuam comprando aquela gasolina ou aquele carro que os mudará de vida... Malditos chacais! Benjamim parece estar certo, o anjo da história é impotente para deter a tempestade; a catástrofe ainda é possível, se não, provável, a não ser que... (- Silêncio! Os chacais estão espreitando!).
Mas, o que diria a Sr.a Claire Demar, feminista sainsimoniana, defronte aos apelos desta publicidade, incrivelmente realizada no século XXI?, o que a Sr.a Claire diria para simpática e bela moça que deseja o simpático rapaz como seu sonho de consumo em uma propaganda de determinada marca de gasolina?. Certa feita, a senhora Claire chegou a afirmar que: “a revolução nos costumes conjugais não se faz na esquina das ruas ou em praça pública, durante três belos dias de sol, mas se realiza em todas as horas, em todos os lugares (…) nas longas noites que transcorrem insípidas e frias, como existem tantas na alcova conjugal. Esta revolução mina e mina sem parar o grande edifício erguido em benefício do mais forte (…) a fim de que um dia o fraco, como o forte, possa reclamar com a mesma facilidade o total de felicidade que todo ser social tem direito de pedir à sociedade.” [Claire Demar, Ma loi d ’avenir, (1833)]. Pois, parece que este dia chegou, ou não... Esta campanha publicitária de gasolina é tão provocante e tão significativa, que pode parecer de fato, que a caminhada da humanidade em seu “progresso inevitável”, parece retroceder. “A unificação da qual as mulheres não são as únicas, mas em todo caso as principais vítimas, posto serem os sinais mais visíveis da impossibilidade de reduzir todas as diferenças, como também da impossibilidade de construir as relações humanas somente sobre a razão”, [Eleni Varikas, “O pessoal é político”: desventuras de uma promessa, Tempo, 1996] não se concretiza. As mulheres ainda não dizem “eu” sem solicitar permissão.
Faz-se silêncio diante de tamanha agressão; deste lugar comum que nos embriaga diante do consumo; que entope de antidepressivos os que são infelizes por não serem felizes; desta possibilidade benjaminiana da catástrofe, e de toda a anti-intelectualização dos seres contemporâneos sem brilho no olhar. Silêncio que trago através da obra “O Silêncio”, de Odilon Redon; e para apoiar a utilização desta, faço uso dos comentários do estúdio Casthalia: esta obra que nos remetem ao silêncio do antes da criação e ao silêncio do fim dos tempos. Mas, perigosamente, amplio por dizer, que este trabalho também nos remete ao silêncio que vivemos diante do torpe capitalismo presente. A imagem realmente tem um o olhar contemplativo e voltado para baixo, e parece exprimir um sentimento ambíguo entre a possibilidade de alguma coisa ocorrida, ou prestes a acontecer. É um agora que depende do antes ou do depois para existir como essência de um momento.
E assim, sou lançado novamente as leituras de Walter Benjamim sobre a história e à sua tese mais citada; a Tese IX faz alusão ao anjo de Paul Klee, que tem seu rosto voltado para o passado e enxerga uma única catástrofe, que sem cessar amontoa escombros e os arremessa a seus pés; ele “gostaria de demorar-se, de despertar os mortos e juntar os destroços. Mas do paraíso sopra uma tempestade que se emaranhou em suas asas e é tão forte que o anjo não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, para o qual dá as costas, enquanto o amontoado de escombros diante dele cresce até o céu. O que nós chamamos de progresso é essa tempestade.” A tese, além de ter dimensão profética, nos posiciona diante da profunda crise da cultura moderna; para Benjamim a quintessência do inferno é a eterna repetição do mesmo (Sísifo e Tântalo); repetição que toda a sociedade está posta em nossos tempos; sociedade dominada pela mercadoria submete-se à repetição, ao “sempre igual” disfarçado em novidade e moda: no reino mercantil, “a humanidade parece condenada às penas do inferno”. Mas, Benjamim desmistifica o progresso fixando não só o olhar marcado por uma dor profunda e inconsolável, mas também por uma profunda revolta moral; Benjamim critica explicitamente a conduta positivista do evolucionismo histórico que conduz a humanidade através do progresso ao triunfo da razão rumo à consciência da liberdade. [Michael Löwy, Walter Benjamim: aviso de incêndio, 2007].
Ocorre que este povo parece estar mais sob o olhar do anjo de Schiller (tranqüilo e alegre) que observa as atividades de um povo pacífico que se alimenta inocentemente do leite de seus rebanhos; do que do anjo desesperado de Benjamim. Os ‘inlibertos’ continuam comprando aquela gasolina ou aquele carro que os mudará de vida... Malditos chacais! Benjamim parece estar certo, o anjo da história é impotente para deter a tempestade; a catástrofe ainda é possível, se não, provável, a não ser que... (- Silêncio! Os chacais estão espreitando!).
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