segunda-feira, 19 de julho de 2010

São tempos difíceis para as sonhadoras

Violência contra as mulheres. Essa é uma das expressões mais duras de que o machismo não acabou. E eu, particularmente, considero um dos assuntos mais difíceis de tratar. Que escancara mais a nossa falta de liberdade.

Como tudo que se refere ao machismo, as estatísticas não são apenas números pra gente analisar. Elas tem vida, conhecemos seu rosto, e cotidianamente estamos perto de um caso. Ou somos, nós mesmas, mais um número pra constar na estatística.

A violência contra as mulheres tem uma característica que a difere das outras formas de violência. É aquela violência que um homem (ou vários) praticam contra uma mulher (ou várias). Pelo fato de serem mulheres. Ou seja, é diferente de quando alguém furta a carteira ou o celular da menina ou do menino no ponto de ônibus.

Nas relações afetivas, o afeto é confundido com controle, posse, ciúmes. Mas um pouco de ciúmes é bom, é uma demonstração de que ele gosta de você, que se importa. É o que dizem revistas femininas, pras adultas, pras adolescentes e jovens. Mas aí o ciúme vira justificativa para a agressão. Pra aumentar o controle. As vezes chegam a dizer que é prova de amor.

Nas novelas a violência sexista vira e mexe aparece. E não me esqueço de Mulheres Apaixonadas, em que o agressor era considerado doido. Não gente, ele não era doido. Ele era um homem, possessivo e ciumento, igualzinho ao namorado da sua filha, ao namorado que você teve há um tempo atrás ou ao seu pai, professor, chefe…

A verdade é que os homens controlam, desqualificam, assediam, agridem, matam as mulheres. Não começa sempre com a agressão física. Vai evoluindo até que a ameaça se concretiza. E a chantagem, o tapinha ou o apertão no braço, chega ao extremo.

O que me deixa irracional é que parece que as pessoas não se abalam mais, que já estamos treinados pra receber essas notícias com naturalidade. De vez em quando, quando um caso é muito absurdo e ganha espaço nos meios de comunicação (vide o caso do misógino Bruno), a violência sexista vira um assunto, muita gente fica chocada. Mas quase sempre o tratamento dado ao caso é tentar justificar a violência a partir do comportamento da vítima. E, depois que o caso não é mais notícia, parece que não tem mais violência contra as mulheres ou, quando tem, “faz parte” do mundo que a gente vive.

Faz mesmo. O machismo mata, por dia, 10 mulheres no Brasil.

Mas isso a globo não mostra, a timeline do twitter não repercute e aposto que não vira assunto na mesa do bar.

Por Tica Moreno, militante da MMM SP

2 comentários:

Sarah de Roure disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sarah de Roure disse...

Lutar contra a violencia por vezes parece uma expressão contraditória. Tica nos lembra que a nossa luta é outra. Lutamos quando mantemos nossos sonhos vivos, quando nos recusamos a fazer o que nos mandam, quando respeitamos nosso querer... Lutamos quando dizemos todos os dias que queremos ser (e seremos!) livres de toda a violência