segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Ocupar as ruas, estourar as bolhas, respirar

A Marcha Mundial das Mulheres, em Campinas, participou na organização da Marcha das Vadias na cidade, realizada no sábado, 24 de setembro.
A Fuzarca Feminista esteve presente, com a batucada da MMM.
Reproduzimos abaixo o post que a Bruna Provazi publicou em seu blog.

Saímos de São Paulo na madrugada manhã de ontem, rumo a Campinas, com a tarefa de nos somarmos a mais uma edição da Marcha das Vadias, movimento que, desde maio deste ano, vem ganhando versões regionais por todo o mundo. A internet e as redes sociais têm contribuído para facilitar a comunicação e a dar visibilidade a ações de movimentos sociais que sempre estiveram organizados sob a forma de rede, ao mesmo tempo em que impulsiona o surgimento de novas formas de articulação. 
Criada em 2000 e presente, hoje, em mais de 58 países e territórios, a Marcha Mundial das Mulheres é um grande exemplo do quanto nossas demandas feministas são concretas e atingem a vida das mulheres, em diferentes graus, em diferentes lugares por todo o mundo. De forma semelhante, sob o princípio do “pensar global, agir local”, a Marcha das Vadias vem articulando demandas regionais por onde passa, mas, sobretudo, vem demonstrando o quanto o tema da violência sexista continua sendo uma realidade para as mulheres e uma das grandes bandeiras do movimento feminista, hoje.
Em Campinas, o processo de construção da Marcha das Vadias envolveu diferentes movimentos, de partidos políticos a coletivos anarquistas e de arte. Performances e apresentações abriram a manhã de sábado, em frente à Catedral, no Centro da cidade: uma diversidade de elaborações sobre o próprio feminismo que só comprovava o caráter coletivo da organização. A partir dali, seguimos pela rua 13 de maio e, com auxílio de um carro de som, expusemos para a população um pouco de nossas motivações, revelando dados de uma situação que, a bem da verdade, @s campineir@s já conheciam muito bem:
No mês de julho de 2011 denúncias de casos de estupros ocorridos no Distrito de Barão Geraldo-Campinas alarmaram os moradores. A discussão desses casos ajudou a divulgar mais dados: na região de Campinas um estupro acontece a cada 13 horas, o que significa um caso para cada 12,7 mil habitantes. No Brasil, a cada ano, 15 mil mulheres são estupradas.
Diante dessa triste realidade, muitas pessoas se organizaram para procurar soluções e exigir atitude das autoridades. Foi aí que nasceu a Marcha das Vadias de Campinas. Mas, na verdade, ela tinha nascido em outro lugar e já estava correndo o mundo.
Ao final, o microfone foi aberto para que os movimentos presentes fizessem breves considerações. Qualquer militante sente um friozinho na barriga sempre que um microfone é aberto; sempre há o risco imanente da partidarização e apropriação de atos e manifestações… Felizmente, as falas foram todas embriagadas demais do sentimento coletivo que nos unia em prol da luta das mulheres. A sensação de dever cumprido, enfim, abriu o apetite d@s marchantes para o almoço.
 O feminismo (e a Marcha das Vadias) inspira(m) essas construções coletivas e solidárias. Sabemos que as lutas contra a violência sexista, pela legalização do aborto e contra a mercantilização de nossos corpos e vidas só têm sentido se forem para todas as mulheres, e não apenas conquistas individuais de quem pode pagar para abortar em clínicas clandestinas limpinhas ou de quem se casou com um cara legal que “até lava a louça”. É por isso que a marcha só tem sentido se for “até que todas sejamos livres”.
 Cada vez que ocupamos as ruas, mostramos a cara e a força do movimento. Cada vez que dialogamos com as pessoas “ao vivo”, ali, no tête-a-tête acalourado do momento, temos uma possibilidade real de convencimento. E cada vez que deixamos indícios, por mínimos que sejam, de que elas não estão sozinhas, mostramos que o tal do outro mundo é realmente possível. Por isso desconfio de revoluções de sofá com fim em si mesmas. A utopia da inclusão digital de nada nos serve, se descolada da realidade. Sabemos que ainda estamos beeeem longe de cibercidadanias – o mundo real é outra coisa. É preciso estourar as bolhas para que possamos tod@s, de fato, respirar.

Um comentário:

Provos Brasil disse...

Povos em luta sempre!

Muito louco o blog!

Provos Brasil